As crianças são particularmente vulneráveis às altas temperaturas devido a fatores fisiológicos e comportamentais. Seus corpos aquecem e perdem calor mais rapidamente, e a desidratação pode ocorrer de forma acelerada, afetando funções cerebrais e a capacidade de concentração.
A desidratação é um dos principais perigos nesse cenário. “Bebês e crianças pequenas não manifestam sede da mesma forma que os adultos, por isso é essencial oferecer líquidos regularmente. A desidratação pode causar fadiga, tontura, dor de cabeça e até confusão mental, interferindo diretamente na concentração”, alerta Andrea Dambroski, pediatra do Departamento de Saúde Escolar dos colégios da Rede Positivo.
Impacto do calor excessivo na educação
O calor em excesso sobrecarrega o sistema cardiovascular e metabólico, resultando em cansaço e irritabilidade. “Isso afeta diretamente o comportamento e a disposição para atividades cognitivas. Crianças cansadas e desconfortáveis têm mais dificuldade para prestar atenção e absorver informações”, complementa Andrea Dambroski.
Uma pesquisa publicada na revista PLOS Medicine revelou que o aumento das temperaturas médias em salas de aula reduz significativamente a capacidade de aprendizado. Segundo o estudo, alunos expostos a temperaturas superiores a 26 °C apresentam queda no desempenho em testes de matemática e leitura.
Outro estudo realizado pela Universidade de Harvard mostrou que estudantes que frequentam escolas sem climatização têm 13% menos chances de obter boas notas em comparação com aqueles que estudam em ambientes refrigerados. Isso ocorre porque o calor excessivo prejudica a memória de curto prazo e reduz a capacidade de resolver problemas.
“A aprendizagem depende de diversos fatores, e a temperatura do ambiente tem um impacto significativo”, reforça Andrea Dambroski. “Ambientes muito quentes provocam sonolência, desconforto e menor capacidade de raciocínio lógico, comprometendo o rendimento escolar”, complementa.
Medidas essenciais para proteger as crianças
Com o aumento das ondas de calor, torna-se fundamental adotar estratégias para minimizar os impactos das altas temperaturas no aprendizado, como a adaptação do ambiente escolar e o reforço dos cuidados com hidratação, roupas e alimentação.
“Garantir que as crianças estejam confortáveis e saudáveis é essencial para um melhor desempenho escolar e um desenvolvimento mais equilibrado”, destaca a especialista, que recomenda alguns cuidados cruciais para os momentos de estudo, seja em casa ou na escola. Confira!
1. Hidratação constante
A hidratação afeta o funcionamento de todo o organismo. “O ideal é que as crianças bebam água ao longo do dia, mesmo sem sentir sede. A garrafinha de água deve ser um item indispensável na mochila escolar”, destaca a médica. Além disso, sucos naturais, frutas com alto teor de água, como melancia e laranja, e água de coco ajudam a manter a hidratação. “Os líquidos devem estar sempre disponíveis e à vista da criança”, reforça Andrea Dambroski.
2. Roupas confortáveis
O tipo de vestimenta também influencia a regulação térmica do corpo. “O melhor é optar por roupas leves e soltas, feitas de tecidos como algodão, e de cores claras, que refletem a luz solar e evitam o superaquecimento”, sugere Andrea Dambroski. Molhar a nuca, os pulsos e os pés com água fria durante intervalos regulares também ajuda no resfriamento do corpo, proporcionando um alívio imediato.
3. Ventilação
A infraestrutura escolar tem papel essencial no bem-estar dos alunos. “É importante que as salas sejam bem ventiladas e, sempre que possível, climatizadas. Caso não haja ar-condicionado, é recomendável manter portas e janelas abertas para a circulação do ar e utilizar ventiladores”, indica a pediatra.
Já em casa, o professor de Física do Curso Positivo Fábio Carneiro recomenda abrir portas e janelas opostas no início da manhã e à noite, criando correntes de ar, para que o vento circule melhor e resfrie o ambiente. “Durante os períodos do dia mais quentes, próximo ao meio-dia, feche as janelas para evitar a entrada do ar quente e ligue ventiladores”, explica.

4. Proteção contra o sol
Durante os intervalos e atividades ao ar livre, é importante buscar sombra e evitar o sol direto entre 10h e 16h. “O uso de protetor solar, chapéus e bonés deve ser incentivado para proteger a pele das crianças”, lembra Andrea Dambroski. “Em casa, mantenha cortinas fechadas para bloquear o sol direto. Pendurar toalhas claras e lençóis úmidos na janela também impede a exposição direta ao sol e ajuda a resfriar o ar que entra”, sugere Fábio Carneiro.
5. Soluções caseiras
O professor de Física recomenda algumas soluções simples para amenizar o calor. “Recipientes com água gelada ou gelo nos ambientes de estudo ajudam a resfriar o ar quando evaporam. Uma garrafa pet cheia de água congelada na frente do ventilador cria um efeito de ar-condicionado improvisado”.
6. Fontes de calor
Um ambiente claro é fundamental para os estudos, porém as lâmpadas podem aquecer ainda mais o ambiente. Nesse caso, a dica é dar preferência às opções de LED, que esquentam menos do que as incandescentes. Além disso, aparelhos eletrônicos e carregadores também emitem calor. Por isso, nos dias mais quentes, é importante mantê-los desligados durante os estudos.
7. Alimentação leve e nutritiva
Nos dias mais quentes, o metabolismo trabalha mais para equilibrar a temperatura corporal. Refeições pesadas podem causar desconforto e reduzir a disposição para atividades escolares. “O ideal é oferecer alimentos leves, de fácil digestão e ricos em água, como frutas, legumes e carnes magras”, sugere a pediatra Andrea Dambroski.
8. Sono de qualidade
O calor também interfere no sono das crianças, impactando diretamente o aprendizado. “O ambiente de descanso deve estar sempre arejado. Se necessário, ventiladores ou ar-condicionado podem ser utilizados em temperatura amena, idealmente em torno de 23 °C”, aconselha a médica. Evitar roupas e cobertas pesadas também contribui para noites mais tranquilas.
Sinais de alerta
Mesmo com os devidos cuidados, é imprescindível estar atento aos sinais de desidratação e estresse térmico. “Fraqueza, sonolência, dor de cabeça, lábios secos, olhos fundos, tontura e irritabilidade são indicativos de que algo não está bem. Se houver vômitos ou febre baixa persistente, a criança deve ser levada ao médico imediatamente”, alerta Andrea Dambroski.
Por Fabiana Gonçalves