Agro

Cortam do agro, mas não cortam da elite política: quem paga a conta do desastre fiscal

Foto: Agência Brasil

Enquanto o Brasil enfrenta um rombo fiscal crescente e se discute como conter os gastos públicos, o Congresso Nacional demonstra, mais uma vez, que prefere sacrificar o que sustenta a economia a mexer em seus próprios privilégios.

Uma consulta feita pelo O Estado de S. Paulo e destacada pela revista Veja revela as seis medidas mais apoiadas por deputados e senadores para cortar despesas. Entre elas, o Plano Safra — essencial para garantir crédito a produtores rurais — aparece como a segunda mais citada pelos deputados para ser cortada.

Sim, o mesmo Plano Safra que ajuda a colocar comida no prato dos brasileiros e que impulsiona o único setor que ainda puxa o crescimento do país: o agro.

Plano Safra na mira, privilégios intactos

É estarrecedor que, em plena crise climática no Rio Grande do Sul, onde produtores perderam lavouras inteiras e acumulam dívidas que somam mais de R$ 100 bilhões, a resposta do Congresso seja cortar crédito rural, e não propor soluções estruturantes ou emergenciais.

Enquanto isso, os salários e benefícios dos próprios parlamentares continuam intactos:

  • Um deputado federal custa cerca de R$ 300 mil por mês aos cofres públicos.
  • Um senador custa em média R$ 700 mil por mês.
  • O Congresso administra um orçamento bilionário de R$ 60 bilhões em emendas parlamentares por ano.
  • Em 2027, o governo já admite que terá que pegar dinheiro emprestado para pagar essas emendas.

Ou seja: o agro pode perder recursos que geram produtividade e renda, mas as benesses políticas e eleitorais continuam garantidas no cheque especial do Tesouro Nacional.

Cortar o que funciona, preservar o que pesa

A consulta feita pelo Estadão mostra que, para a maioria dos parlamentares, é mais fácil penalizar o setor produtivo do que rever o custo do próprio sistema político. É uma inversão de prioridades que revela a incapacidade — ou a falta de vontade — de cortar na carne do poder.

Outras propostas, como rever salários de servidores de elite, cortar penduricalhos no Judiciário ou reduzir benefícios do Legislativo, nem sequer entraram nas principais listas de corte.

O agro: o único setor que entrega, mas que apanha

O agro responde por quase 25% do PIB brasileiro, lidera as exportações e gera superávit comercial ano após ano. E o que recebe em troca?

  • Logística precária.
  • Seguro rural ineficiente.
  • Insegurança jurídica com invasões de terra.
  • Agora, ameaça de cortes no financiamento via Plano Safra.

Enquanto isso, setores que pouco produzem continuam sendo sustentados por um Estado caro, lento e, muitas vezes, ineficiente.

Conclusão: chega de sacrificar quem produz

O que está em jogo é mais do que números no Orçamento — é uma escolha de país.
Vamos continuar punindo o setor que alimenta o Brasil e sustenta nossa balança comercial para manter os privilégios da política?

Se o Congresso Nacional quer responsabilidade fiscal de verdade, que comece por onde há gordura: salários milionários, auxílios desnecessários, estruturas inchadas e emendas eleitoreiras. Não pelo setor que trabalha de sol a sol, endividado e desamparado, como os produtores do Rio Grande do Sul.

O Brasil não pode aceitar que os incapazes de governar com responsabilidade exijam sacrifícios dos que ainda sustentam a economia.

Miguel Daoud

Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


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