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Formigas na lavoura: vilãs ou aliadas?

Foto: Freepik

Quando se fala em formigas na lavoura, muitos produtores logo associam à perda de produtividade. E com razão: espécies como saúvas e quenquéns são conhecidas por causar desfolhamento severo, comprometendo a saúde e o desenvolvimento das plantas. No entanto, nem todas as formigas representam risco. Algumas exercem funções ecológicas fundamentais, sendo até indicadoras da saúde ambiental.

Quem explica esse cenário é a bióloga Ana Eugênia de Carvalho Campos, especialista em insetos sociais. Segundo ela, o primeiro passo é entender que formigas são insetos altamente organizados, com funções complexas dentro do ecossistema.

“Se a gente retirasse formigas e cupins da floresta amazônica, ela colapsaria”, afirma.

Quais espécies causam prejuízo à lavoura?

As vilãs: cortadeiras

As principais inimigas do agricultor são as formigas cortadeiras, dos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns). Elas cortam folhas e as transportam para o ninho para cultivar fungos que servem de alimento para a colônia. Esse comportamento pode comprometer toda uma área produtiva se não for monitorado e controlado adequadamente.

Além disso, certas espécies de formigas mantêm uma relação simbiótica com pragas como pulgões e cochonilhas, protegendo esses insetos em troca de substâncias açucaradas que eles produzem. Isso indiretamente agrava o problema fitossanitário.

Estratégias eficazes de controle

Para lidar com as formigas problemáticas, a bióloga destaca a importância do manejo integrado de pragas (MIP). Ações como:

  • Monitoramento pré-plantio para localizar e controlar ninhos;
  • Uso de barreiras físicas nas plantas, impedindo a escalada das cortadeiras;
  • Aplicação localizada de iscas formicidas;
  • Adoção de produtos biológicos e químicos com responsabilidade;
  • Manutenção de áreas com vegetação nativa nas entrelinhas do cultivo.

Essas práticas promovem resiliência no agroecossistema, diminuindo a dependência de produtos químicos e reduzindo impactos ambientais.

Formigas benéficas: por que preservá-las?

Segundo dados da literatura científica, o Brasil abriga cerca de 2.500 espécies de formigas, sendo a maioria benéfica ao solo e à biodiversidade. Elas ajudam a:

  • Arejar o solo, promovendo a infiltração da água;
  • Incorporar matéria orgânica e nutrientes;
  • Controlar populações de outros insetos;
  • Dispersar sementes, favorecendo a regeneração vegetal.

Em regiões semiáridas, por exemplo, há registros de que certas plantas só germinam após passarem pelo trato das formigas, o que demonstra seu papel insubstituível.

Bioindicadoras de sustentabilidade

As formigas também têm se mostrado excelentes bioindicadoras de mudanças climáticas e degradação ambiental. Quando há desequilíbrio em determinada área, a comunidade de formigas se transforma: espécies mais sensíveis desaparecem, e outras mais resistentes ocupam o espaço.

Por isso, projetos de restauração ecológica já utilizam o monitoramento de formigas como métrica de sucesso, inclusive em áreas de mineração e reflorestamento.

A especialista Ana Eugênia falou sobre esse tema e muito mais no programa A Protagonista, em uma conversa com Jaqueline Silva. Com base em sua experiência no estudo de formigas e no manejo sustentável no agro, ela trouxe reflexões valiosas sobre o equilíbrio ecológico nas lavouras. Acompanhe a entrevista completa e entenda por que conhecer melhor esses insetos pode transformar sua produção.

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