Um imóvel de luxo, localizada à beira-mar, na Praia do Patacho, em Porto de Pedras, Litoral Norte de Alagoas, foi bloqueado judicialmente nessa quarta-feira (24), durante a Operação Custos Fidelis, deflagrada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
O ativo recuperado é avaliado em R$ 3,9 milhões e teria sido adquirido com recursos do tráfico. O bem foi tornado indisponível por decisão judicial.
A operação
Por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), com o apoio da Polícia Civil e do Gaeco do Amazonas, a ação visava combater a lavagem de dinheiro oriunda do tráfico de drogas comandado pela organização criminosa Família Teófilo Otoni (FTO), afiliada ao Comando Vermelho (CV).
Em entrevista coletiva realizada na manhã de hoje, 25, a major Layla Brunnela, chefe do Centro de Jornalismo da PMMG, detalhou que ao longo dos 18 meses de investigação foram realizadas diversas ocorrências, a partir das quais, informações foram sendo coletadas e entrelaçadas levando à percepção de que uma organização aparentemente local tinha vínculo com o Comando Vermelho.
Ela também esclareceu o nome da operação, Fidelis. “Uma das facetas do crime organizado é o domínio de territórios e de comunidades. Assim, o nome da operação significa guardião fiel, justamente para lembrar que quem protege o território mineiro são as instituições públicas,” finalizou.
Participaram da coletiva também o procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho; o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões; o coordenador do Gaeco, promotor de Justiça Giovani Avelar; e o chefe do Estado-Maior da PMMG, coronel Maurício José de Oliveira,
Estrutura empresarial do crime
As investigações revelaram que a FTO opera como uma verdadeira empresa do crime, com núcleos de logística, finanças e ataques armados. Entre as táticas utilizadas, destaca-se o uso de fuzis e uniformes policiais em execuções de rivais, aumentando a letalidade dos ataques e gerando intimidação à população.
Segundo apurado, em menos de um mês, a organização adquiriu R$ 8,4 milhões em drogas, com fornecedores do CV que operam diretamente do Amazonas. A lavagem de dinheiro era sustentada por empresas de fachada nos setores de gás liquefeito, internet, câmbio e, principalmente, comércio atacadista de pescados.
As investigações apontam que cada uma dessas empresas movimentavam valores da ordem de R$ 25 milhões por ano, recebendo depósitos pulverizados de todo o país, inclusive de Teófilo Otoni e Belo Horizonte, zonas de atuação da FTO.
Relatórios de inteligência financeira identificaram depósitos fragmentados que somaram R$ 2,3 milhões em uma única semana, prática conhecida como smurfing, usada para dificultar a detecção de movimentações suspeitas.
Golpe nacional contra o crime organizado
Segundo a promotora Ana Bárbara Canedo Oliveira, do Gaeco de Governador Valadares, a operação revelou que o Comando Vermelho estruturou um verdadeiro serviço de atacado do tráfico, abastecendo facções em diversos estados. “Empresas amazonenses de fachada funcionavam como hubs nacionais de aquisição de drogas, recebendo valores de Goiás, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, São Paulo, Acre, e depois faziam rápidas evasões de valores por meio de compras de criptoativos” explica.
No último ano, o acompanhamento meticuloso da FTO em território mineiro foi prioridade do Ministério Público e da Polícia Militar, o que resultou na apreensão de 26 armas, dentre elas 4 fuzis e 1 calibre 12; 23 presos pertencentes a FTO; e além de diversas apreensões de drogas de variados tipos. A título de exemplo em uma única ocorrência houve a apreensão de 300 quilos de maconha.
“A Operação Custos Fidelis é um marco na estratégia de sufocamento econômico das facções. Ao expor a simbiose entre FTO e Comando Vermelho, mostramos um crime organizado rico, violento e cada vez mais sofisticado financeiramente”, acrescenta a promotora.
Apesar do robusto bloqueio patrimonial, o uso de bitcoins para escoar valores ilícitos representa um desafio crescente. O Gaeco alerta que a falta de regulamentação eficaz transforma os criptoativos em um motor financeiro do Comando Vermelho.