Uma empregada de limpeza do arranha-céus no centro de Nova Iorque que, na segunda-feira, foi palco de um tiroteio que vitimou cinco pessoas, além do suspeito, recordou o momento em que o homem de 27 anos entrou no local, antes de atirar fogo. Sebije Nelovic, de 65 anos, refugiou-se numa arrecadação, durante mais de duas horas, depois de Shane Devon Tamura lhe ter apontado a arma.
Há 27 anos que Sebije Nelovic trabalha naquele edifício. Duas horas após o início do seu turno, quando estava no 33.º andar, ouviu tiros. A mulher decidiu, então, sair do escritório que estava a limpar e ver o que se passava.
“De repente, a porta de vidro começou a tremer. E um tipo veio para o meio da porta e apontou-me a arma. Começou a disparar à minha volta. Levantei as mãos e disse: ‘Sou uma empregada de limpeza. Sou uma empregada de limpeza'”, detalhou, num comunicado citado pela ABC News.
A trabalhadora fugiu e escondeu-se numa arrecadação, onde se trancou durante cerca de duas horas.
“Comecei a rezar. Ele atirou contra a porta da arrecadação, tive tanto medo”, disse.
Sebije Nelovic pensou em enviar uma mensagem ao seu supervisor, mas optou por desligar o telemóvel, uma vez que temia que algum barulho pudesse revelar a sua localização. Quando o ataque cessou, a trabalhadora confessou ter pensado em Julia Hyman, a jovem de 27 anos que trabalhava na empresa Rudin Management e que, naquele dia, deveria estar no escritório. Julia Hyman foi a última vítima mortal de Shane Devon Tamura, antes de colocar termo à sua própria vida.
Já em casa, a mulher ficou a par do tiroteio através da televisão. “Tinha de saber o que tinha acontecido e porquê”, justificou.
As autoridades continuam a investigar os motivos por detrás do ataque que causou cinco mortos, entre eles um polícia e o atirador, e feriu gravemente um trabalhador da Liga Nacional de Futebol Americano (NFL). O presidente da câmara de Nova Iorque, Eric Adams, apontou que o jovem queria atingir a sede da NFL, mas enganou-se no elevador.
Shane Devon Tamura tinha um bilhete de suicídio no bolso de trás das calças, alegando sofrer de encefalopatia traumática crónica (ETC), uma doença cerebral ligada a traumatismos cranianos e frequentemente associada a jogadores de futebol americano, devido aos golpes repetidos na cabeça, noticiou a CNN.
“O futebol de Terry Long deu-me ETC e fez-me beber um galão de anticongelante. […] Não se pode ir contra a Liga Profissional de Futebol Americano (NFL), eles esmagam-nos”, lia-se na nota de três páginas, que foi encontrada após o tiroteio, segundo disseram fontes ligadas à investigação àquele meio norte-americano.
O jovem, que tinha um histórico de problemas psiquiátricos, foi jogador de futebol americano quando era mais novo. No bilhete, Tamura referia-se ao caso do atleta Terry Long, antigo jogador dos Pittsburgh Steelers diagnosticado com ETC, que colocou termo à vida depois de beber anticongelante, em 2005.
“Estudem o meu cérebro, por favor. Lamento. Digam ao Rick que lamento tudo”, apelou ainda.
Desconhece-se se o atirador padecia, de facto, da doença, cujo diagnóstico não pode ser obtido com clareza em vida.
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