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Após crise diplomática, Tailândia e Camboja entram em confronto. Entenda

Após semanas de tensão, os exércitos da Tailândia e do Camboja entraram hoje em confronto numa zona fronteiriça disputada, um dia depois de um soldado tailandês ter perdido a perna direita ao pisar uma mina terrestre em território fronteiriço, em Ubon Ratchathani.

 

Este foi já o segundo incidente do género este mês, e levou a Tailândia a retirar o embaixador no Camboja e a expulsar o embaixador cambojano em Banguecoque.

As autoridades tailandesas responsabilizam o Camboja pela instalação de minas terrestres em território tailandês, o que, segundo Banguecoque, constitui uma violação da Convenção de Otava, acordo internacional que proíbe o uso, o armazenamento, a produção e a transferência de minas terrestres antipessoal, de acordo com a emissora pública Thai PBS.

Contudo, para entender a disputa, há que recuar um pouco mais. Banguecoque e Phnom Penh estão envolvidas numa disputa territorial de longa data na fronteira partilhada, que se intensificou desde o final de maio, quando um soldado khmer morreu num tiroteio numa zona conhecida como Triângulo Esmeralda, fronteira comum entre Camboja, Tailândia e Laos.

No dia seguinte ao tiroteio, os exércitos tailandês e cambojano concordaram em reduzir as tensões, mas Phnom Penh manteve tropas na zona, apesar dos pedidos de retirada de Banguecoque que decidiu, então, assumir o controlo da “abertura e encerramento” de todas as fronteiras com o Camboja, por considerar existir uma “ameaça à soberania e segurança da Tailândia”, disseram, na altura, as autoridades tailandesas.

A decisão não afetou o comércio e os trabalhadores cambojanos continuavam autorizados a entrar na Tailândia.

Em junho, contudo, Banguecoque fechou temporariamente dois postos fronteiriços com o Camboja, na província tailandesa de Chanthaburi (leste), num contexto de tensões mútuas.

Enquanto a Tailândia defende uma solução bilateral para o conflito, Phnom Penh encaminhou a disputa para o Tribunal Internacional de Justiça, em junho.

Tailândia lança ataques aéreos contra dois alvos militares no Cambodja

Entretanto, o exército tailandês informou que a Tailândia lançou hoje ataques aéreos contra dois alvos militares no Camboja, após confrontos entre as forças armadas dos dois países, que já fizeram pelo menos um morto.

“Os F-16 lançaram ataques! Postos militares cambojanos das 8.ª e 9.ª divisões [comandos das forças especiais] foram destruídos”, afirmou a divisão Segunda Região do exército tailandês, destacada no nordeste, numa publicação na rede social Facebook.

O Ministério da Defesa cambojano condenou a “agressão militar brutal” da Tailândia e acrescentou que Phnom Penh “não tem outra escolha senão usar o direito soberano e territorial para se defender da invasão do exército tailandês”.

Entretanto, a Embaixada da Tailândia no Camboja solicitou aos cidadãos tailandeses que abandonem o país após os confrontos entre os exércitos das duas nações, que começaram hoje, e dada a possibilidade de os ataques “continuarem e expandirem-se”.

O exército tailandês afirmou que as forças de Phnom Penh abriram fogo numa zona fronteiriça da província de Surin e que seis soldados cambojanos estavam à porta de uma base de operações tailandesa “totalmente armados, incluindo [com] lança-mísseis”.

Tailândia lança ataques aéreos contra dois alvos militares no Cambodja

A Tailândia lançou hoje ataques aéreos contra dois alvos militares no Camboja, anunciou o exército tailandês, após confrontos entre as forças armadas dos dois países, que já fizeram pelo menos um morto.

Lusa | 07:09 – 24/07/2025

Entretanto, as autoridades tailandesas anunciaram o encerramento total de todas as passagens fronteiriças terrestres com o Camboja.

O nível de segurança nas passagens fronteiriças foi elevado para o 4 – o máximo -, o que constitui um encerramento completo, disse, em conferência de imprensa o porta-voz do centro tailandês que monitoriza a situação na fronteira com o Camboja, o almirante Surasant Kongsiri.

“Dada a situação atual, é necessário que a Tailândia feche as barreiras nas passagens fronteiriças para proteger a nossa soberania, integridade territorial e a segurança das pessoas nas zonas fronteiriças”, disse, na mesma ocasião, o porta-voz dos Negócios Estrangeiros do centro, Maratee Nalita.

Qual a origem do conflito?

O Camboja e a Tailândia estão em conflito há muito tempo sobre o traçado da fronteira de mais de 800 quilómetros, definida em grande parte por acordos celebrados durante a ocupação francesa da chamada Indochina, entre final do século XIX e meados do século XX.

Em 2011, confrontos em torno do templo Preah Vihear, classificado como património mundial pela Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e reivindicado por ambos os países, causaram pelo menos 28 mortos e dezenas de milhares de deslocados.

Embora em 2013, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), principal órgão jurisdicional da ONU, tenha atribuído ao Camboja a zona contestada abaixo do templo, o traçado de outras zonas continua a opor Banguecoque e Phnom Penh.

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