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Aves são reintroduzidos à natureza em áreas de usinas de açúcar e álcool

Foto: Luís Fábio Silveira/Museu de Zoologia-USP)

Em janeiro deste ano, 20 papagaios-chauá (Amazona rhodocorytha), aves extintas em Alagoas, começaram a ser reintroduzidos em uma reserva florestal de mil hectares situada em Coruripe, a 86,5 quilômetros de Maceió (AL).

Nos próximos meses, as aves devem ganhar a companhia de outros bichos, como o mutum-de-alagoas, além de jabutis e macucos.

O objetivo da reintrodução dessas espécies é recompor a fauna que existia originalmente na área de Mata Atlântica, pertencente a uma usina de açúcar e álcool, a fim de restaurar a funcionalidade do ecossistema.

“Essa área onde estamos reintroduzindo esses animais possui a maior quantidade de pau-brasil nativo e apresenta dois grandes problemas. O primeiro é o da reconexão florestal, cuja solução leva mais tempo, porque depende de plantar florestas. E o segundo, é manter a floresta de pé e viva, porque ela está colapsando, pois não tem animais dispersores de sementes”, disse Luís Fábio Silveira, vice-diretor do Museu de Zoologia da USP e coordenador do projeto.

Segundo ele, por esses motivos os pesquisadores estão soltando naquela área aves e jabutis criados em cativeiro e que fazem a dispersão das sementes para que a floresta se mantenha em pé, ao mesmo tempo em que iniciam os programas de reconexão dos fragmentos florestais.

Processo de conversão das áreas para as aves

O processo de reivindicação envolveu o Ministério Público, organizações não governamentais (ONGs) e lideranças locais, e demandou uma longa negociação com os proprietários das terras, contou o pesquisador.

A maioria dos fragmentos florestais de Alagoas é propriedade privada, principalmente de usinas de açúcar e álcool, e não são grandes o suficiente para que o poder público os reivindique para transformá-los em reserva pública, como um parque nacional ou reserva biológica.

Diante dessa realidade, a estratégia adotada pelos pesquisadores foi conversar com o Ministério Público (MP) e as ONGs locais para convencer os proprietários das usinas a transformar as áreas indicadas como prioritárias para conservação como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

“Esse tipo de unidade de conservação não é tão restritivo como as federais porque garante a perpetuidade da titularidade da área e, ao mesmo tempo, mantém a floresta de pé, sem desmatamento”, disse Silveira.

Segundo Silveira, muitos proprietários de usinas gostaram da ideia porque permite melhorar seus índices de ESG (Ambiental, Social e Governança). Um obstáculo, contudo, foi a necessidade de os proprietários das usinas pagarem os custos para o registro em cartório dessas áreas como RPPN.

Por meio de conversas com o Ministério Público os pesquisadores conseguiram que os cartórios de Alagoas isentassem as taxas. Por meio do projeto, foi possível criar mais de 5 mil hectares de área de Mata Atlântica protegida.

Envolvimento da comunidade

Uma das espécies protegidas por meio do programa, iniciado em 2018, foi o mutum-de-alagoas. Semelhante a uma galinha, o mutum-de-alagoas é a maior ave terrestre do Nordeste brasileiro, com tamanho similar ao de um peru e peso em torno de 4 a 4,5 quilos. Em razão dessas características, a ave, que se alimenta de frutas e só vive em áreas de floresta, foi muito caçada e, dessa forma, extinta da natureza há 40 anos.

“Não restava nenhuma espécie desse animal na natureza no começo da década de 1990. Só três representantes foram resgatados por um criador particular e decidimos então usá-los para iniciar o projeto”, contou Silveira.

De acordo com Silveira, a ave foi uma das únicas espécies de animal extintas na natureza que retornaram ao seu hábitat no continente americano nas últimas décadas. “Essa foi uma das primeiras iniciativas nas Américas. Outra na região foi a de uma espécie de corvo que ocorre só no Havaí e também havia sido extinto”, comparou.

A reintrodução da espécie causou uma onda de comoção pública, que resultou na criação de blocos carnavalescos e de corridas de rua em homenagem à ave, além de murais espalhados pela cidade e a decretação pelo governo de Alagoas do mutum como a ave símbolo do estado. A mesma comoção tem sido observada em relação à reintrodução do papagaio-chauá.

As aves foram reintroduzidas após serem mantidas por dois anos em um viveiro com 8 metros de altura, no meio da mata, para aclimatação, onde foram submetidas a testes físicos e comportamentais.

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