Pela primeira vez na história o Brasil vai enviar oficiais-generais brasileiros para atuar como adidos militares na embaixada brasileira na China. Os Estados Unidos eram o único país a receber alto escalão militar brasileiro para tratar das relações militares.
Os oficiais generais são os mais postos mais altos da carreira militar. Os adidos militares representam as Forças Armadas e o Ministério da Defesa do Brasil junto às autoridades militares de outros países. Sua função principal é promover a cooperação militar, trocar informações e fortalecer os laços entre os dois países.
Embora o governo brasileiro não tenha citado a crise no relacionamento com os Estados Unidos como motivo para a aproximação com a China. A mudança ocorre no momento em que produtos brasileiros foram sobretaxados em 50%.
Decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fixou a lotação dos seguintes adidos na China:
- um oficial-general do Exército como Adido de Defesa e do Exército;
- um contra-almirante da Marinha como Adido Naval;
- um coronel da Aeronáutica como Adido Aeronáutico;
Todos os designados também serão responsáveis pelas relações militares junto à Tailândi, ampliando o alcance diplomático militar brasileiro no sudeste asiático.
Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que a atitude representa um passo do governo brasileiro para diversificar fornecedores de equipamentos militares e reduzir dependência dos EUA.
“A ação indica maior profundidade na relação estratégica entre esses dois países, acho que esse é o primeiro ponto. Reflete o interesse mútuo em ampliar um diálogo que historicamente era mais de cooperação técnica”, afirma o professor de relações internacionais Rodrigo Amaral, da PUC-SP.
A prioridade dada aos Estados Unidos até este ano é reflexo da histórica relação e dependência estratégica, doutrinária e tecnológica do Brasil em relação ao aparato militar norte-americano.
De acordo com especialistas, o envio dos oficiais-generais à China representa um novo posicionamento do Brasil após o governo dos Estados Unidos ter se mostrado instável devido às ações unilaterais do presidente Donald Trump.
“O Brasil mantém canais ativos com os EUA e OTAN e deve apresentar essa aproximação com a China como parte de uma estratégia de diversificação, não de exclusão”, afirma o especialista em relações internacionais Laerte Apolinário, da PUC-SP.
Apesar do aceno diplomático à China, o Brasil manteve três generais nas adidâncias dos EUA. O decreto do presidente Lula também estabelece os adidos que vão atuar em solo norte-americano:
- um oficial-general da Aeronáutica como Adido de Defesa e Aeronáutico;
- um oficial-general da Marinha como Adido Naval; e
- um oficial-general do Exército como Adido do Exército.
“O desafio será administrar percepções para evitar que o gesto seja interpretado como mudança de alinhamento”, completa Apolinário.
Relações de defesa entre Brasil e China
Além dos oficiais-generais destacados para atuar em Pequim, o Brasil contará com outros três representantes:
- um coronel ou tenente-coronel do Exército como Adjunto do Adido de Defesa e do Exército;
- um capitão de mar e guerra ou capitão de fragata como Adjunto do Adido Naval.
A atuação dos adidos militares vai além da representação protocolar: eles auxiliam na negociação de acordos de cooperação, no intercâmbio de informações e em visitas oficiais, além de monitorar avanços tecnológicos e industriais no setor de defesa.