Alagoas

Como homem autista que era entregador passou em medicina na UFMG aos 38 anos

Resiliência: esta é uma palavra que sempre esteve presente na vida de Gabriel Passos. De família de baixa renda, foi entregador de pães e bolos fabricados pela mãe, passou por uma depressão profunda, viu o pai quase morrer pelo alcoolismo, descobriu que era autista e apesar de tudo isso, foi aprovado aos 38 anos em quatro faculdades de medicina, sendo duas delas federais.

Hoje, aos 40 anos, Gabriel é aluno do quinto período do curso, na Universidade Federal de Minas Gerais, uma das mais conceituadas do país.

Depressão: o começo de tudo

Gabriel sempre se interessou pela área de biologia, anatomia e fisiologia humana, mas nunca pensou em ser médico por ser de família muito pobre. Em 2018, foi diagnosticado com depressão profunda. Conseguiu tratamento terapêutico, e foi a psicóloga que o ajudou a não desistir da medicina.

“Durante as terapias, minha psicóloga me fez ver que eu tinha capacidade de passar em medicina e me encorajou. Então, comecei a estudar por conta própria, em casa, porque não tinha como pagar cursinho. Em 2020, já curado da depressão, eu interrompi os estudos para doar um rim para um primo. Eu era o único compatível na família. Isso me deu mais força ainda para passar em medicina. Vi que tinha a missão de salvar vidas”, conta Gabriel.

 

Até conseguir a aprovação, foram 3 anos estudando para o vestibular. Uma rotina difícil conciliando o trabalho de entregador e a dedicação aos estudos. Quando não trabalhava, a jornada com os livros durava, em média, 10 horas a 12 horas. Mas havia dias em que Gabriel ou não conseguia estudar ou tinha apenas duas horas livres.

Pães, caldos e perseverança

 

A dona Maria da Penha Passos é daquelas mães que acorda cedo e deita tarde para sustentar a família. Vende pães e caldos pelas ruas de Vitória, capital do Espírito Santo.

Com a aprovação do filho no vestibular da UFMG, ela teve que batalhar um pouco mais para custear a mudança pra Minas Gerais. E foi com muito orgulho que ela fez isso.

Gabriel sempre ajudou nas vendas fazendo entregas. Nesta fase da mudança, mais ainda. Pegava a bicicleta e saía para as entregas pelas ruas de Vitória.

“Ao mesmo tempo que fazia as entregas, eu me preparava para o Enem. Nos horários em que não trabalhava, eu estudava. Quando estou de férias da faculdade e vou visitar meus pais, vendo chup-chup na praia”, lembra o estudante.

 

“Hoje estou no quinto período de medicina e, assim que me formar, pretendo conciliar o trabalho remunerado, para dar uma vida melhor para meus pais, com o trabalho voluntário para os mais pobres.”

Autistas são capazes

Gabriel não esconde que possui o espectro autista, em nível um. Para ele, ser estudante de medicina e ter esta condição especial, faz com que muitos pais tenham esperança em seus filhos.

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