A diarista Sthefany Sibele França Rayzer questionou ser investigada por racismo após a denúncia da enfermeira Luciana Ponciano, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana de Goiânia. Segundo o delegado responsável pelo caso, Joaquim Adorno, da Delegacia Estadual de Atendimento a Vítimas de Crimes Raciais e de Intolerância (Deacri), a mulher alegou que o que fez “não é crime”.
“Ela perguntou porque estava sendo investigada porque o que fez não é crime. Ela vai ser indiciada por racismo. Nessa semana, o inquérito deve ser encaminhado para a Justiça”, afirmou o delegado, em entrevista ao g1.
O g1 entrou em contato com Sthefany Sibele França Rayzer, mas a diarista informou que não quer se pronunciar sobre o caso. Em depoimento à polícia, a profissional confessou ter enviado as mensagens racistas.
O caso aconteceu no dia 9 de agosto. Segundo Luciana, ela foi vítima de racismo após comunicar para a diarista que não havia gostado do serviço de limpeza realizado no apartamento em que mora.
A Polícia Civil concluiu a investigação e agora o caso deve ser analisado pelo Poder Judiciário. “Todas as testemunhas do caso foram ouvidas. Todas as provas materiais foram colhidas como deve ser. Todo o trabalho de apuração e preparação para a denúncia do Ministério Público foi feito”, explicou Adorno.
A Lei do Racismo (7.716/1989) prevê que, caso alguém seja condenado pelo crime, pode receber uma pena de dois a cinco anos de prisão, de acordo com o Código Penal.
Os crimes de injúria racial passaram a ser equiparados aos de racismo no Brasil em janeiro de 2023. Antes, as ofensas por questão racial a um indivíduo tinham pena ainda inferior àquelas direcionadas às pessoas negras como um coletivo.
Entenda o caso
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Após a indicação de uma vizinha, a enfermeira entrou em contato com a Sthefany para combinar os serviços e o preço da diária para que ela limpasse o seu apartamento.
No dia combinado, Luciana contou que ligou para a diarista e perguntou se ela queria almoçar. No entanto, a profissional recusou, pois disse que já estava indo embora. “Eu falei: ‘Mas já? Muito rápido’. Ela falou: ‘sua casa é muito limpinha e eu não tive trabalho nenhum’”, relembrou.
A enfermeira fez o pagamento pelo serviço prestado, mas foi surpreendida ao chegar em casa e encontrar locais da residência sujos. Ela chegou a gravar vídeos mostrando a sujeira e reclamou com a diarista. Depois de receber a reclamação, Sthefany chamou Luciana de “nojenta” e disse que ela era “chata por ser de cor”.
Ao ser ofendida, a enfermeira questionou: “Você tem preconceito com pretos?”. A diarista respondeu: “Demais, do seu jeito, sim, que reclama, que fica exigindo. A sua raça é isso aí, não se espera mais nada”, afirmou.
Nos prints divulgados por Luciana, a profissional a chamou de “cabelo de Bombril” e declarou: “Branco nunca me ‘encheu tanto o saco’”.
Racismo outra vez
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De acordo com a enfermeira, a diarista voltou a ligar para ela e mandar mensagens em tom de deboche após a denúncia. Em mensagens enviadas na última quarta-feira (13), Sthefany chamou Luciana de “bicha feia sebosa” e afirmou: “Ficou feio pra tu mesmo!”.
Além disso, ela chamou a enfermeira de “cabelo de Bombril” e disse que as pessoas estão “rindo da cara” dela.
“Atende, cabelo de bombril! Vai lá dar mais uns depoimentos!”, escreveu a diarista em uma das mensagens quando não foi atendida.
Luciana levou os novos prints à delegacia e declarou que não atendeu nem respondeu a nenhuma das mensagens e ligações da mulher.