Óleos essenciais extraídos de plantas amazônicas demonstraram eficácia no combate a parasitas que comprometem a saúde do tambaqui (Colossoma macropomum), o peixe nativo mais cultivado no Brasil. A pesquisa, coordenada pela Embrapa Amapá, em parceria com a Unifap e a Embrapa Amazônia Ocidental, oferece uma solução natural ao uso de quimioterápicos, com potencial para transformar práticas na piscicultura nacional.
Os testes laboratoriais analisaram óleos de três espécies do gênero Piper: P. callosum (conhecido como aperta-ruão, caá-peba ou falso-jaborandi, entre outros nomes populares); P. hispidum (matico ou aperta-ruão); e P. marginatum (capeba, malvarisco ou pimenta-do-mato, entre outros). As duas primeiras apresentaram bons resultados contra vermes monogenéticos, parasitas que se fixam nas brânquias dos peixes, dificultando a respiração e impactando a produção.
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Alternativa segura e sustentável
Segundo o pesquisador Marcos Tavares Dias, coordenador do estudo, os tratamentos convencionais com produtos como formalina e albendazol, embora eficazes, apresentam riscos à saúde de quem manipula e ao meio ambiente. Já os óleos essenciais não mostraram toxicidade nas doses aplicadas e foram eficazes na redução dos parasitas.
“Além de seguros para os trabalhadores e para os peixes, os óleos não estimulam resistência nos parasitas, como ocorre com os quimioterápicos”, afirma Dias. A aplicação foi feita por meio de banhos terapêuticos. O óleo de P. callosum foi utilizado em dois banhos de 20 minutos com 24 horas de intervalo. Já o de P. hispidum, em três banhos de uma hora com intervalos de 48 horas. Em ambos os casos, a infestação caiu significativamente, mostra a pesquisa.
Pesquisa com base na biodiversidade
As plantas usadas na extração dos óleos foram cultivadas na Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus, sob a responsabilidade do pesquisador Francisco Célio Chaves. As espécies são da família Piperaceae, tradicionalmente empregada por comunidades amazônicas na medicina natural.
Após o cultivo e secagem, os óleos foram extraídos e analisados no Rio de Janeiro, pela Embrapa Agroindústria de Alimentos, onde o pesquisador Humberto Bizzo identificou os compostos majoritários dos extratos por cromatografia gasosa.
“Esses compostos têm reconhecida atividade biológica e podem ser usados tanto na piscicultura quanto no controle de pragas agrícolas”, ressalta Chaves.

Caminho para piscicultura mais sustentável
Além de tratar os peixes, a pesquisa reforça a importância da prevenção. Medidas como quarentena, controle de densidade nos tanques e monitoramento da água são fundamentais para evitar surtos. Estima-se que o controle de parasitas possa representar até 22% dos custos de produção.
A expectativa dos cientistas é que o uso dos óleos sirva como alternativa viável aos quimioterápicos, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial ao ODS 8, que promove crescimento econômico e trabalho decente.
No entanto, os especialistas alertam: ainda é preciso avançar em regulamentações, validação em campo e na produção em escala desses óleos. “É necessário garantir acesso, segurança e eficácia para que essa tecnologia beneficie o produtor e fortaleça a piscicultura brasileira”, conclui Dias.

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