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Fibromialgia: a dor invisível ignorada pelo sistema e a luta diária por reconhecimento social e previdenciário

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1. QUANDO A DOR NÃO SE VÊ, MAS SE SENTE TODOS OS DIAS

Imagine acordar todos os dias com dores pelo corpo, como se você tivesse corrido uma maratona na noite anterior e ainda ter que explicar essa dor a pessoas que olham para você e dizem: “mas você nem parece doente.” Essa é a realidade de milhares de pessoas no Brasil que vivem com Fibromialgia, uma síndrome crônica que, apesar de afetar a vida de quem a tem em todos os níveis: físico, emocional, profissional e social, ainda é invisível aos olhos da sociedade, da medicina tradicional e, principalmente, das políticas públicas.

A dor que é sentida diariamente e questionada por aqueles que não identificam sinais aparentes, sinais das limitações, do sofrimento. É a mesma dor que, muitas vezes, desencadeia fatores psicológicos como depressão, ansiedade e síndrome do pânico. Essa é a dor que não se vê, mas que impacta profundamente a vida das pessoas com fibromialgiatodos os dias.

2. A INVISIBILIDADE QUE DÓI AINDA MAIS QUE A PRÓPRIA DOR

Quem tem fibromialgia convive com dores intensas e constantes, cansaço extremo, insônia, lapsos de memória, ansiedade e depressão. Mas o pior não está apenas nos sintomas físicos. O que mais fere é o descrédito.

Muitas pessoas escutam dos próprios médicos que “é psicológico”. Familiares se impacientam. Empregadores não compreendem. Amigos se afastam. O preconceito com uma dor que não aparece em exames cria um sentimento de invalidação e solidão profunda. E a sensação que sobra é a de estar lutando todos os dias contra o próprio corpo e contra o mundo que não acredita em você.

Trata-se de uma doença que afeta majoritariamente mulheres, com pesquisas indicando que elas são diagnosticadas sete vezes mais do que os homens, em um país onde o preconceito e a revitimização das mulheres, especialmente no ambiente de trabalho, são lamentavelmente recorrentes.

3. A DESINFORMAÇÃO QUE SILENCIA HISTÓRIAS

Embora a fibromialgia seja reconhecida pela Organização Mundial da Saúde desde 1992 (CID-10 M79.7), ainda falta informação acessível, empatia e educação sobre a doença. Quantas campanhas você já viu sobre fibromialgia na TV, nos postos de saúde, ou nas redes sociais de órgãos públicos?

Essa ausência de visibilidade reforça o silêncio ao redor da doença. As pessoas não sabem do que se trata, os profissionais de saúde não são preparados para diagnosticá-la com segurança, e os próprios pacientes vivem anos em uma jornada exaustiva, tentando entender o que há de errado com eles. É preciso romper esse silêncio com urgência. Informar é o primeiro passo para acolher.

4. O ESTADO QUE VIRA O ROSTO DIANTE DA DOR

No sistema público de saúde, muitas pessoas com fibromialgia enfrentam filas, falta de especialistas, descaso. Poucos centros oferecem tratamento adequado e multidisciplinar, que é essencial para controlar os sintomas. A atenção básica raramente está preparada para atender essas pessoas com o cuidado e o olhar humano que elas precisam.

E quando o assunto é o direito à proteção social, como o auxílio-doença ou o BPC (Benefício de Prestação Continuada), o problema é ainda maior. O INSS, frequentemente, nega os pedidos com justificativas técnicas, como “ausência de incapacidade laborativa” “ou ausência de impedimento de longo prazo”. O que isso quer dizer? Que, mesmo com dores diárias e comprometimento real da qualidade de vida, muitas vezes o Estado diz que você está “apto” a trabalhar.

Essas negativas não consideram o sofrimento diário, o impacto na saúde mental e emocional, ou o fato de que fibromialgia não tem cura, e ainda assim, exige força diária para continuar. É importante destacar que não existe um exame clínico ou de imagem capaz de diagnosticar a fibromialgia de forma direta. O diagnóstico é realizado por exclusão, ou seja, após a não constatação de outras doenças.

Diante dessa especificidade, é imprescindível que o Sistema Único de Saúde (SUS) conte com um contingente adequado de médicos reumatologistas, que são os especialistas responsáveis pelo diagnóstico e tratamento da fibromialgia, o que indubitavelmente não acontece.

5. O Julgamento na Perícia: O Corpo Tem Que Provar a Dor

O momento da perícia médica para quem solicita um benefício é um dos mais temidos. Ali, em poucos minutos, a vida de uma pessoa com fibromialgia pode ser resumida a uma palavra: “indeferido”.

É como se fosse necessário provar a dor com sangue, raio-x ou laudo que mostre o que o corpo, por si só, já grita. Mas a fibromialgia não deixa marcas visíveis e isso parece ser motivo suficiente para descredibilizar o sofrimento de quem a carrega. Essa lógica precisa mudar. É preciso compreender que dor, incapacidade e sofrimento não se medem por imagens de exames, nem pelo “achismo visual” dos que periciam. Eles se sentem. E devem ser ouvidos.

6. CONCLUSÃO: POR UM OLHAR MAIS JUSTO E DIGNO ÀS PESSOAS COM FIBROMIALGIA.

Viver com fibromialgia é viver entre o desejo de ser compreendido e a exaustão de ter que explicar tudo, o tempo todo. Enquanto a doença segue invisível para muitos, ela continua afetando profundamente vidas reais, pessoas que têm sonhos, filhos, histórias e que, acima de tudo, merecem viver com dignidade. Reconhecer a fibromialgia como uma condição que merece atenção, acolhimento e direitos é um ato de justiça. E justiça, como a dor, também não pode mais ser invisível.

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