A Grande Mesquita “sempre defendeu uma visão do Islão compatível com a letra e o espírito dos princípios da República” e “sempre recusou que o Islão fosse utilizado abusivamente para fins políticos destinados a fraturar a comunidade nacional”, declarou o reitor num comunicado de imprensa.
Mas “recusa também que a luta legítima contra o islamismo se transforme num pretexto para estigmatizar os muçulmanos e servir agendas políticas particulares”, acrescentou no comunicado, em que descreveu “a construção de um problema muçulmano e a elaboração insidiosa de um discurso discriminatório cada vez mais explícito”.
Hafiz reagiu assim a um relatório do Governo francês sobre o islamismo político apresentado na quarta-feira ao Conselho de Defesa, que alertou para a sua infiltração “a partir de baixo”, a nível local e associativo, liderado pela Irmandade Muçulmana em França.
O relatório visa especificamente a organização Muçulmanos de França (MF), que sucedeu à união de organizações islâmicas de França (UOIF) em 2017, e é apresentada como “o ramo nacional” da Irmandade Muçulmana, uma organização política islâmica conservadora nascida em 1928 no Egito.
A organização “mantém historicamente uma relação privilegiada com a Grande Mesquita de Paris” e tem “laços muito estreitos” com “cerca de quinze” das suas mesquitas, segundo o texto a que a agência noticiosa France-Presse teve acesso.
Chems-eddine Hafiz sublinhou que “foram os poderes públicos que escolheram fazer da UOIF, primeiro, e depois dos Muçulmanos de França, um ator importante do Islão em França, e convidá-la para a mesa da República”.
Em 2020, os Muçulmanos de França foram recebidos pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, com vista à criação de um futuro conselho nacional de imãs responsável pela acreditação da sua formação.
“É curioso estranhar que a Grande Mesquita de Paris seja simplesmente um dos interlocutores deste organismo, legitimado pelas instituições republicanas desde há muitos anos”, acrescenta o reitor, que “apela aos responsáveis políticos para que deem provas de coerência” e adverte contra qualquer “manobra política” no debate.
Na quarta-feira, Emmanuel Macron pediu ao Governo para formular propostas para apresentar num “próximo Conselho de Defesa no início de junho”, tendo em conta a “gravidade dos factos” expostos no relatório, que refere uma “ameaça à coesão nacional” com o desenvolvimento do islamismo de “baixo para cima” por parte da Irmandade Muçulmana, nomeadamente em associações desportivas, culturais e sociais.
A Irmandade Muçulmana foi proibida em vários países, incluindo na Arábia Saudita, no Egito e, muito recentemente, na Jordânia.
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