“Oficialmente, a Wagner está a terminar a sua presença no Mali. Mas o ‘Africa Corps’ [uma nova estrutura gerida pelo Kremlin] está a assumir o comando”, disse à agência de notícias francesa France-Presse fonte diplomática no Sahel.
Desde os golpes de Estado em 2020 e 2021 que levaram ao poder a junta liderada pelo general Assimi Goïta, o Mali rompeu a sua aliança com a antiga potência colonial francesa para se virar militar e politicamente para a Rússia.
Numa mensagem publicada na sexta-feira num canal Telegram do grupo podia ler-se: “Missão cumprida. O Wagner está de regresso a casa.”
Contudo, o “Kremlin continua a controlar o jogo”, continuou a mesma fonte diplomática: “A maior parte do pessoal de Wagner no Mali, originário da Rússia, será reintegrado no ‘Africa Corps’ e mantido nas capitais regionais do norte e em Bamako.”
Oficialmente, o Mali nunca reconheceu a presença de mercenários da Wagner, mas afirma que recorre a instrutores russos.
“Wagner ontem ou ‘Africa Corps’ hoje, o nosso interlocutor continua a ser o mesmo, é o poder central na Rússia, ou seja, o Kremlin”, reagiu uma fonte de segurança maliana.
Uma fonte militar do Mali confirmou que “a cooperação militar com a Rússia continua, com ou sem Wagner”.
Até porque “a Rússia continua a ser o nosso parceiro estratégico em termos de cooperação militar”, acrescentou a fonte.
O grupo de mercenários russos foi desmantelado e reorganizado após a morte do seu líder, Yevgeny Prigozhin, em agosto de 2023.
Os métodos brutais do grupo paramilitar no terreno, no Mali, são regularmente denunciados pelas ONG de defesa dos direitos humanos.
A situação militar no Mali continua tensa e hoje o exército anunciou que se retirou da base de Boulkessi, objetivo recorrente dos ataques da filial da al-Qaeda no Sahel.
A base de vários hectares foi atacada por ‘jihadistas’ duas vezes em dois dias. O primeiro ataque, efetuada por assaltantes fortemente armados, causou dezenas de mortos. No segundo, os jihadistas utilizaram drones e, depois de terem partido, chegou um contingente militar para apoiar a retirada das restantes forças.
Fontes militares falam de uma “retirada estratégica”, apesar do aumento evidente das ações da al-Qaeda no norte, centro e sul do Mali nas últimas semanas.
Oficialmente, as forças armadas estão a “obter resultados significativos” dizendo que conseguiram “desmantelar várias conspirações e planos de atentados terroristas destinados a semear o pânico entre a população e a desestabilizar as instituições” do país africano.
Contudo, a situação militar no terreno parece estar a fugir ao controlo das autoridades estatais.
Leia Também: Mali anuncia “ampla contraofensiva” contra rebeldes no país