Alagoas

Luiz, presente. Hoje e sempre!

Perdemos o Luiz Edvaldo, a Sofia, um ser humano muito diferenciado, liderança histórica do Movimento Nacional de Pessoas em Situação de Rua (MNPR). Posso resumir isso numa frase que parece contraditória, mas carrega uma verdade profunda, o Luís tinha tudo, mesmo sem ter nada. O “nada” diz respeito ao material, ao patrimônio. Luís era uma pessoa em situação de rua. Não possuía bens, casa, roupas, sapatos…

Mas tinha tudo.

Tinha um sorriso acolhedor, um abraço sincero, um carisma raro. Tinha consciência de sua realidade, e, mesmo imerso em tanta dor, demonstrava uma capacidade comovente de se preocupar com os outros, com seus irmãos e irmãs em situação de rua. E estava sempre lá. Sempre presente. Enfrentou inúmeras violências ao longo da vida, violências que a maioria de nós jamais conhecerá. Mesmo quando escutamos, mesmo quando abrimos rodas de diálogo para ouvir sua história, jamais compreenderemos a extensão do que ele passou. Porque a sociedade, além de excludente, é muitas vezes cruel. Julga com rigor, discrimina com preconceito e se nega a enxergar o que está por trás de quem vive nas ruas, que é uma história de abandono, de dor e de luta.

E, ainda assim, Luiz resistiu.

Ele aproximou instituições, tocou consciências, contribuiu para a construção de políticas públicas e para a promoção da justiça social. Foi com ele que muitos eventos e ações do Sistema de Justiça, como os mutirões, os projetos de escuta e as rodas de diálogo, aconteceram.

Em um mundo que transforma em “famosas” tantas pessoas por motivos vazios, ele foi grande na invisibilidade, tornou-se visível pela sua luta, pela sua presença generosa e pela forma com que conduziu, com brilhante simplicidade, a luta de um povo invisibilizado. Hoje, parte um ser humano notável, aos 40 anos, de forma precoce.

Fica o vazio. Mas fica também a certeza de que o mínimo que podemos fazer é seguir seu exemplo, seguir sua luta.

Buscar, com humildade, a superação das marcas materiais que ferem nossa sociedade, que são a desigualdade, a pobreza, a exclusão.

Quando seres assim partem, nós ficamos órfãos.

Órfãos aqui em Alagoas, na terra de Zumbi, dos Caetés, de Palmares.

Órfãos de um irmão de caminhada, de um lutador incansável pelos direitos das pessoas em situação de rua.

Órfãos de um militante da vida.

Luiz, presente. Hoje e sempre!

 

Antônio José Araújo – Juiz federal

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