Alagoas

Maranguape é a cidade mais violenta do Brasil, segundo Anuário

O município cearense de Maranguape foi a cidade com a maior taxa de homicídios do Brasil em 2024 entre aquelas com mais de 100 mil habitantes, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança 2025, divulgado nesta quinta-feira (24).

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Entre 2022 e 2023, Maranguape registrou um aumento de 87% na taxa de mortes violentas intencionais, alcançando 74,2 casos por 100 mil habitantes. Segundo o Anuário, a escalada da violência no município está diretamente ligada aos confrontos entre as facções Comando Vermelho e Guardiões do Estado.

Maranguape é a cidade natal do humorista Chico Anysio, antes conhecida pela calmaria e clima ameno no pé da serra. No entanto, o avanço de facções criminosas nos últimos 20 anos e os confrontos por domínio de regiões acabaram com o pacifismo local.

💡 Entenda: Para compilar o Anuário, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que organiza o levantamento, considera como mortes violentas intencionais (MVI):

Homicídios dolosos;

Feminicídios;

Latrocínios;

Lesões corporais seguidas de morte;

Mortes de policiais;

Mortes decorrentes de intervenções policiais.

Impacto das facções criminosas

A dinâmica do crime organizado no Ceará tem passado por transformações que ajudam a explicar o aumento da violência em cidades como Maranguape. Segundo César Barreira, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), o que se observa é uma nova fase nas relações entre facções criminosas.

Em um primeiro momento, havia certo alinhamento entre grupos locais e grandes facções de atuação nacional, segundo o pesquisador. Com o tempo, essas alianças passaram a sofrer rupturas, o que contribui diretamente para o crescimento das taxas de homicídios.

“Outro dado que nós temos é que as facções estão também migrando para os municípios menores. Então, ela também deixa de atuar especificamente, por exemplo, em Fortaleza, para atuarem nesses municípios menores. É uma tática que houve de uma certa mudança do ‘chegar’ dessas facções. As facções chegavam já direto nas grandes cidades, hoje não, elas chegam nas pequenas cidades e depois migram para as grandes cidades”, explica.

Aumento da violência na Região Metropolitana

Barreira também aponta que a migração de criminosos de Fortaleza, impulsionada por novas políticas de segurança na capital, tem contribuído para o aumento da violência em cidades da Região Metropolitana, como Maranguape.

A política de segurança pública está sendo efetiva para Fortaleza, então os bandidos e as práticas criminosas migram pra esses municípios que fazem parte da região metropolitana. E Maranguape, uma das explicações que a gente poderia explicar, é o fato de ser um município ao lado de Caucaia, que é um município sempre com taxas muito elevadas, e também ao lado de Maracanaú.

— César Barreira, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da UFC.

Outro fator agravante é a localização do município, que faz fronteira com Maracanaú e Caucaia, que também estão entre as 10 cidades mais violentas do país.

Combate a violência no Ceará

Para combater o alto índice de violência, o pesquisador afirma que é essencial compreender as dinâmicas das facções criminosas. “Nós não vamos enfrentar as facções de uma forma direta, só com violência, nós vamos ter que enfrentá-las com serviço de inteligência e também violência. É claro que em determinados momentos a violência vai ter que ser usada”, declara.

Em nota enviada ao g1, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirmou que o Ceará “realiza investimentos para dar o suporte necessário ao desenvolvimento dos trabalhos das forças de segurança com o intermédio dos setores de inteligência, tecnologia e inovação” e afirmou que houve, neste ano, redução do número de mortes nos municípios cearenses citados no Anuário.

“Os dados, que foram compilados pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) da SSPDS, mostram que o Ceará reduziu 9,10% o número de vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), no segundo semestre de 2024, comparado ao primeiro semestre do mesmo ano, passando de 1.714 para 1.558. Já se comparados os dados de julho a dezembro de 2024 ao mesmo período de 2023, a diminuição foi de 1,6% nos CVLIs. Este resultado positivo também foi observado em Fortaleza e na Região Metropolitana, com reduções de 3,6% e 21,9%, respectivamente”, diz a nota.

Cidades mais violentas do Brasil

As cidades de Maranguape, Caucaia e Maracanaú aparecem entre as 10 mais perigosas do país. O 1º lugar ficou com Maranguape, que registrou uma taxa de 79,9 mortes por 100 mil habitantes, a maior entre as cidades pesquisadas.

A cidade de Caucaia aparece em 8º lugar no ranking, com uma taxa de 68,9 mortes a cada 100 mil habitantes. Já Maracanaú ficou em 9º lugar, com uma taxa de 68,5 mortes a cada 100 mil habitantes.

Cidades Taxa de mortes População Nº de homicídios

1º Maranguape (CE) 79,9 108 mil 87

2º Jequié (BA) 77,6 168 mil 131

3º Juazeiro (BA) 76,2 237 mil 194

4º Camaçari (BA) 74,8 300 mil 239

5º Cabo de Santo Agostinho (PE) 73,3 203 mil 159

6º São Lourenço da Mata (PE) 73,0 111 mil 86

7º Simões Filho (BA) 71,4 114 mil 86

8º Caucaia (CE) 68,7 355 mil 258

9º Maracanaú (CE) 68,5 234 mil 171

10º Feira de Santana (BA) 65,2 616 mil 429

Fonte: Anuário da Segurança Pública 2025

Maranguape é o município com a menor população e com o menor número absoluto de mortes violentas intencionais: em 2024, foram 87 homicídios em uma população de cerca de 108 mil habitantes.

Ceará é o terceiro mais violento

Com três cidades entre as dez mais violentas, o Ceará tem a terceira maior taxa de mortes violentas entre as 27 unidades da federação, atrás somente do Amapá e da Bahia. Em 2024, o Ceará registrou 37,5 mortes a cada 100 mil habitantes.

O estado também foi um dos únicos quatro que registraram um aumento no número de mortes violentas em 2024: Maranhão (+12,1%), Ceará (+10,9%), São Paulo (+7,5%) e Minas Gerais (+5%).

Confira o ranking dos estados com maiores taxas de mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes:

Amapá: 45,1

Bahia: 40,6

Ceará: 37,5

Pernambuco: 36,2

Alagoas: 35,4

Maranhão: 30,4

Mato Grosso: 29,8

Pará: 29,5

Amazonas: 27,4

Rondônia: 26,1

Em 2024, o Brasil registrou 44.127 mortes violentas intencionais, uma redução de 5,4% em relação ao ano anterior. Com isso, o País ficou com uma taxa média de 20,8 mortes a cada 100 mil habitantes – a menor taxa desde 2012, conforme o Anuário de Segurança Pública.

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