O presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou, esta sexta-feira, acerca do conflito no Leste europeu, considerando que as propostas para a paz feitas por Moscovo e por Kyiv vão em caminhos opostos, chegando mesmo a classificá-las como “absolutamente contraditórias.”
Os responsáveis envolvidos neste processo no caminho para a paz trocaram memorandos – nos quais estão descritas as suas visões sobre a forma de como colocar fim ao conflito, que já tem mais de três anos. As conversações de paz aconteceram em Istambul, na Turquia, a 16 de maio e 2 de junho. Segundo o líder russo, os negociadores ucranianos e russos estão em contacto “permanente” por forma a chegar a um acordo acerca do local e data para uma terceira reunião.
“Quanto aos memorandos, como esperado, não aconteceu nada de surpreendente… São dois memorandos absolutamente contraditórios”, referiu Putin numa conferência de imprensa realizada em Minsk, na Bielorrússia, país aliado de Moscovo.
O chefe de Estado da Rússia acrescentou que que era devido a estes memorandos contraditórios que as negociações continuavam a ser organizadas, “por forma a encontrar um caminho conjunto.”
Essas discussões, as primeiras diretas entre Moscovo e Kyiv sobre o desfecho do conflito desde a primavera de 2022.
O conflito três anos depois… e a ‘amizade’ com Trump
A Ucrânia continua a exigir que o exército russo se retire das cinco regiões que ocupa parcial ou totalmente, enquanto a Rússia quer que Kyiv renuncie a aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte e reconheça o seu controlo sobre esses territórios, condições que Kyiv considera inaceitáveis.
Assim, nas últimas semanas, apenas ocorreram trocas de prisioneiros e de corpos de pessoas mortas na frente de batalha, principalmente soldados.
“Concordámos em prosseguir os nossos contactos após (…) a devolução dos corpos dos nossos militares falecidos”, disse Putin à imprensa.
“Assim que esta etapa estiver concluída, realizaremos uma terceira série de negociações. Estamos prontos para isso”, assegurou, precisando que Istambul poderá ser novamente o local escolhido para tal encontro.
Putin recordou que a Rússia já entregou a Kyiv mais de 6.000 corpos e está pronta para entregar outros cerca de 3.000.
“Cabe agora à parte ucraniana aceitar os corpos dos seus soldados mortos”, indicou.
Além disso, o líder do Kremlin reconheceu, numa rara admissão, que a explosão das despesas com a defesa, que atingem “6,3% do Produto Interno Bruto (PIB)” este ano, era responsável pela inflação na Rússia, que continua a rondar os 10%.
Este nível de despesas militares “é muito”, admitiu.
“Pagámos isso com a inflação, mas estamos atualmente a lutar contra o aumento dos preços”, assumiu.
Por fim, o presidente russo disse ter “um profundo respeito” pelo homólogo norte-americano, Donald Trump, que descreveu como “corajoso”, garantindo “apreciar” que o inquilino da Casa Branca “deseje sinceramente encontrar uma solução” para o conflito na Ucrânia.
“Graças ao presidente Trump, as relações entre a Rússia e os Estados Unidos começam a equilibrar-se em alguns pontos. Nem tudo está resolvido no domínio das relações diplomáticas, mas os primeiros passos foram dados”, congratulou-se.
“Em geral, estamos prontos para isso”, afirmou, argumentando que a componente humanitária “é importante, pois cria as condições para, como dizem os diplomatas, debater em profundidade a essência do problema”.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
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