A safra de soja 2025/26 nos Estados Unidos começa sob forte impacto da redução de área cultivada. A queda reflete um ambiente de incerteza econômica e desestímulo do produtor americano diante dos baixos preços acumulados na Bolsa de Chicago e das crescentes incertezas comerciais com a China.
De acordo com o USDA, a nova área plantada foi estimada em 83,4 milhões de acres (cerca de 33,8 milhões de hectares), abaixo dos 86,9 milhões de acres registrados no ciclo anterior. Com isso, a perspectiva de produção recuou abaixo dos 120 milhões de toneladas na temporada.
O rendimento estimado segue em 52,5 bushels por acre, o que, em condições normais de clima, ainda pode garantir uma colheita próxima de 118 milhões de toneladas. Tudo dependerá da regularidade das chuvas nas fases críticas do desenvolvimento da lavoura.
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Reeleição de Trump reaquece debate sobre tarifas e temores de retaliação
O retorno de Donald Trump à presidência dos EUA reabre discussões sobre política comercial externa, especialmente com a China. A possibilidade de reintrodução de tarifas sobre produtos chineses e consequentes retaliações no comércio de soja voltam ao radar do mercado.
A China é o principal destino da soja americana e qualquer incerteza sobre as compras chinesas da nova safra pode aumentar os estoques internos e gerar pressão sobre as cotações em Chicago.
Diante desse cenário, o mercado se mantém em compasso de espera: se Pequim desacelerar suas aquisições, os preços podem recuar independentemente do comportamento climático nos campos americanos.
Demanda por biodiesel sustenta o óleo, enquanto farelo sente efeito colateral
No mercado interno dos EUA, o programa de biocombustíveis continua impulsionando o consumo de óleo de soja. O aumento da mistura obrigatória no diesel reforça a demanda e dá sustentação aos preços do óleo.
Por outro lado, o farelo enfrenta uma pressão maior, já que a produção elevada decorrente do esmagamento não encontra o mesmo equilíbrio entre oferta e demanda. Caso as exportações para a China sejam afetadas, o excedente de farelo pode aumentar, adicionando uma camada extra de pressão sobre os contratos futuros da commodity.
Brasil: benefícios de curto prazo podem vir acompanhados de desafios estruturais
O Brasil surge como potencial ganhador em meio às incertezas globais. Uma eventual retração das compras chinesas nos EUA abriria espaço para a soja brasileira, que já se destaca em competitividade e volume. Os prêmios nos portos seguem firmes e, com o dólar volátil, os preços internos têm encontrado sustentação.
No entanto, há um ponto de atenção: a expectativa de mais uma safra recorde em 2026, com possível área plantada superior à do ciclo atual. Caso não haja incremento proporcional da demanda global, o risco de superoferta e consequente pressão baixista nos preços se torna real. O Brasil pode conquistar mercados, mas precisará equilibrar oferta e demanda para manter a rentabilidade do setor.
A retração na área plantada nos EUA reflete um produtor mais cauteloso frente ao cenário internacional adverso. Clima e política comercial seguem como os dois vetores centrais para definição do rumo dos preços.
O Brasil aparece como alternativa sólida de abastecimento global, mas enfrenta o desafio de administrar sua própria abundância. Em um mercado global cada vez mais sensível a variáveis políticas e climáticas, planejamento e gestão de risco se tornam essenciais.

*Rafael Silveira é economista com pós-graduação em Finanças, Investimento e Banking pela PUC-RS. É especialista em mercados agrícolas na consultoria Safras & Mercado, com ênfase em estratégias de investimento e gestão de risco em commodities
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