Estas são eleições incertas e têm gerado mais atenção fora da ilha do Ártico, devido ao interesse do Governo dos Estados Unidos liderado por Donald Trump em anexar este território autónomo da Dinamarca.
Devido à elevada afluência, a votação foi estendida até às 21:00 locais (23:00 em Lisboa), noticiou a agência Efe.
A única sondagem — divulgada no início de fevereiro, antes da convocação das eleições, e com 30% dos eleitores indecisos — apontava para uma vitória do partido socialista Inuit Ataqatigiit (IA), liderado pelo presidente Múte B. Egede, com 31%, à frente do partido social-democrata Siumut, com 21,9%, ambos representando o movimento moderado pró-independência.
O Partido Democrata liberal, que também fala em primeiro construir uma base sólida e caminhar para a independência sem uma data fixa, duplicaria os seus votos e tornar-se-ia o terceiro maior partido, com 18,8%.
O movimento independentista mais radical, representado pelo partido Naleraq, ganharia quatro pontos, ficando-se pelos 16%, de acordo com a sondagem.
A confirmar-se esta previsão, os partidos IA e Siumut poderão repetir a sua coligação governamental, tal como fizeram nos últimos três anos, apesar de ambos terem sofrido perda de apoio.
A campanha foi dominada por questões como a saúde, a educação, a economia e a habitação — as que mais interessam aos groenlandeses, de acordo com uma sondagem recente — com a questão da independência em segundo plano.
A população, que não quer fazer parte dos Estados Unidos, embora anseie pela criação de um Estado soberano, não quer perder o seu nível de vida, segundo outra sondagem divulgada nas últimas semanas.
O interesse de Trump pela Gronelândia, reafirmado logo após o seu regresso à Casa Branca em janeiro, faz parte do seu projeto de política externa denominado “America First” (“A América Primeiro”), que inclui exigências para que a Ucrânia entregue os direitos dos seus minerais em troca de ajuda militar, ameaças de assumir o controlo do Canal do Panamá e sugestões de que o Canadá deve tornar-se o 51º estado dos EUA.
O aumento das tensões internacionais, o aquecimento global e as mudanças na economia mundial colocaram a Gronelândia no centro do debate sobre o comércio e a segurança globais, e Trump quer garantir que os EUA controlam este país rico em minerais.
Mais concretamente, as alterações climáticas estão a afinar o gelo do Ártico, prometendo criar uma passagem noroeste para o comércio internacional e reacendendo a competição com a Rússia, a China e outros países pelo acesso aos recursos minerais da região.
Além disso, porque a Gronelândia fica na costa nordeste do Canadá, com mais de dois terços do seu território dentro do Círculo Polar Ártico, é crucial para a defesa da América do Norte desde a II Guerra Mundial. Na altura, os EUA ocuparam a Gronelândia para garantir que esta não caía nas mãos da Alemanha nazi e para proteger as cruciais rotas de navegação do Atlântico Norte.
As bases mantidas pelos EUA na Gronelândia foram ali colocadas durante a II Guerra e servem hoje para apoiar operações de alerta de mísseis, defesa de mísseis e vigilância espacial tanto dos EUA como da NATO.
Esta ilha, com pouco menos de 57.000 habitantes, depende fortemente da ajuda financeira da Dinamarca, que fornece 40% do seu rendimento anual, e da pesca, que representa 90% das suas exportações.