Alagoas

Metade das armas usadas por CACs são de uso restrito no Brasil, indica PF

Metade das armas sob posse de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) são classificadas como de uso restrito no Brasil, indicam dados da Polícia Federal (PF), que passou a controlar os registros dessa categoria em 1º de julho. Antes, a atribuição era do Exército.

Ainda no primeiro mês de controle dos registros e armas em mãos dos CACs, a PF disponibilizou as informações em seu site. A ferramenta possibilita saber os estados, categorias e tipos de CACs, além dos tipos, categorias e calibres das armas registradas.

No caso das armas com CACs, o sistema mostra o atual cenário como um todo, mas não detalha o histórico com as quantidades ou tipos de armas registradas a cada ano — como faz com os registros de pessoas que são CACs.

De acordo com a ferramenta, são 1,5 milhão de armas registradas com os CACs, com 978 registros individuais ativos no país atualmente. Das armas, 755 mil são enquadradas como de uso controlado, o que representa pouco mais de 50% do total.

A maior parte das armas restritas são pistolas 9mm (461 mil), modelo que era de uso restrito até 2019, foi temporariamente liberado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) e, posteriormente, voltou a ser restringido no governo Lula (PL). Leia mais abaixo.

Em menor escala, os armamentos de uso restrito atualmente com os caçadores, atiradores e colecionadores incluem cerca de mil metralhadoras e outras exóticas, como 16 canhões e 6 morteiros.

Especialista em controle de armas e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Roberto Uchôa considera que houve uma mudança no perfil das armas em circulação no Brasil nos últimos amos. Para ele, as restrições mais brandas impostas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) foram preponderantes para o atual cenário.

“O período de flexibilização do Bolsonaro aumentou o poder de fogo nas mãos da população, com armas de calibres mais potentes, com maior energia e com maior número de pistolas em circulação. São armas que têm maior quantidade de munições”, exemplifica o especialista.

 

Antes do período entre 2019 e 2023, quando a 9mm e fuzis ficaram mais acessíveis, Uchôa afirma que o grupo tinha em mãos com maior prevalência os revólveres, como 38 e .380.

As demais 752 mil armas registradas com os CACs são de uso permitido no Brasil. Lideram as carabinas/fuzis (250 mil unidades) de calibre 22 (212 mil), seguida das espingardas (202 mil armas) de calibre 12 (159 mil).

Pistola 9mm superou revólver 38

O g1 mostrou em maio deste ano que a pistola 9mm, de uso restrito até 2019, superou o revólver calibre 38 como a arma mais popular do Brasil.

Este modelo teve venda flexibilizada durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL), até ser novamente proibida em janeiro de 2023.

Metade das armas usadas por CACs são de uso restrito no Brasil, indica PFBalas de calibre .380 (à esq.) e de 9mm (à dir.) — Foto: Luiz Gabriel Franco/g1

Além de mais registrada, a possibilidade de compra por civis fez com que a 9mm passasse a ser a mais popular no mercado ilegal.

Em 2018, 11 armas foram apreendidas, roubadas, furtadas ou perdidas pelos donos (contra 1.176 revólveres 38). Em 2024, foram 1.377 unidades 9mm encontradas com criminosos ou que caíram no mercado ilegal.

Diferença para outras armas

Por ser uma pistola, a 9mm carrega mais munição (de 12 a mais de 20 balas) do que revólveres (5 a 8 projéteis). Além disso, como usa pente e não tambor, é uma arma que leva menos tempo para ficar preparada entre um tiro e outro (veja no vídeo acima).

A 9mm tem, ainda, quase o dobro da potência da pistola 380 (453,56 joules contra 245,32 joules). Além disso, o formato da bala, cônica, dá à 9mm um maior poder de penetração – podendo atingir pessoas atrás de obstáculos com mais facilidade.

Roberto Uchôa, especialista em controle de armas e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), avalia que a liberação da 9mm fez com que a demanda represada fizesse a procura disparar. “Em pouco tempo, ela se torna a arma mais vendida do Brasil”.

“[O calibre 9mm] É tão restrito no Brasil que, em determinada época, somente a Polícia Federal e os militares tinham acesso, nem as outras forças de segurança tinham”, afirma.

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