As negociações, nas quais também participará uma delegação portuguesa, iniciam-se com um impasse entre o acordo ficar limitado à gestão de resíduos plásticos ou vir a adotar metas concretas e obrigatórias de redução da sua produção até 2040, segundo fontes ouvidas pela Lusa.
Nas vésperas do início da reunião de 10 dias – designada de segunda parte da quinta sessão do Comité de Negociação Intergovernamental das Nações Unidas (INC-5.2) – a coordenadora do Pacto Português para os Plásticos, Patrícia Carvalho, afirmou que esta é “uma oportunidade única para, de forma coletiva, se procurarem soluções”.
“Temos uma expectativa muito grande, depositamos esperanças neste tratado global e esta reunião é uma oportunidade de todo o mundo combater a poluição dos plásticos”, considerou.
Inserido no bloco da União Europeia, o Pacto Português para os Plásticos “preconiza um tratado ambicioso, que abranja o ciclo de vida dos plásticos, desde a produção até ao seu tratamento, a redução naquilo que é possível através da responsabilização dos produtores, e a eliminação de colocação de substâncias perigosas nos plásticos”, defendeu Patrícia Carvalho.
Admitindo que estas questões “trouxeram discordâncias entre os blocos” – de um lado os países produtores de plástico e do outro os que defendem metas concretas de redução, – Patrícia Carvalho pediu “uma ação mais ambiciosa”.
“A redução da produção de plástico é importante porque já existe um ‘stock’ grande de plásticos. É extremamente importante dar uso a este ‘stock’, incorporá-lo, reutilizá-lo e ter essa orientação para a redução em toda a cadeia”, explicou.
Por seu lado, Paula Sobral, bióloga e presidente da Associação Portuguesa do Lixo Marinho disse à Lusa que “há uma coligação de cientistas que pretende introduzir a questão dos efeitos nocivos dos aditivos tóxicos [incorporados nos plásticos] para os ecossistemas e para a saúde, mas a indústria química faz um ‘lobby’ tremendo e não quer nem ouvir falar em reduzir o plástico, que seria uma medida minimizadora”.
Esta semana, 60 cientistas publicaram cartas abertas nas quais lançam um apelo urgente aos governos para que cheguem a acordo quanto a medidas exequíveis para travar a poluição pelos plásticos.
Os cientistas sublinham a necessidade de eliminar gradualmente os aditivos tóxicos e os produtos químicos nos plásticos e de reduzir a sua produção.
Segundo a ONU, já se “vive uma crise de saúde, com microplásticos e nanoplásticos cada vez mais presentes no corpo humano”.
Após décadas de utilização excessiva, a que acresceu um aumento dos plásticos de curta duração e de utilização única, chegou-se “a uma catástrofe ambiental global”, alertam as Nações Unidas.
“Cerca de 12 milhões de toneladas de plásticos estão a ser arrastadas anualmente para os oceanos, as chamadas ‘ilhas de plástico’ estão a florescer”, matando 100 mil animais marinhos todos os anos, especificam os dados da ONU.
A maioria dos plásticos permanece intacta durante décadas após a sua utilização, os que se desgastam acabam por se transformar em microplásticos, consumidos por peixes e outros animais marinhos, entrando rapidamente na cadeia alimentar global.
Segundo a ONU, 17 milhões de barris de petróleo são usados para a produção de plástico todos os anos.
Por ano, são usados 500 mil milhões de sacos de plástico enquanto, por minuto, um milhão de garrafas de plástico são compradas.
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