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Pedro Pires aponta educação como chave para Cabo Verde no tempo da IA

“Agora o meu telemóvel tem inteligência artificial, o meu computador – que comprei há dias — também tem IA e não sei como utilizar aquilo. Tentei, ainda hoje tentei e parece que vou lá chegar, mas a questão do desenvolvimento tecnológico precisa de ser acompanhada”, referiu.

 

Com 91 anos, o antigo comandante da luta de libertação, primeiro-ministro e Presidente da República, introduziu o tema da IA, no sábado, na Praia (capital), no relvado do estádio da Várzea — onde foi declarada a independência –, palco de um debate sobre o próximo meio século do país.

“Aquilo a que podemos chamar inovação”, seja tecnológica, política ou outra, deve estar no centro das atenções de Cabo Verde: “Temos de pensar nisso”.

“O setor chave para resolver essas grandes questões é o setor da educação, mas num conceito diferente, mais alargado”, que vá além da educação formal das escolas de hoje e abrace “uma ideia de aprendizagem durante toda a vida”.

“Temos de mudar o sistema de educação. Por exemplo, aqui, às vezes ficamos com a ideia de que preparamos as pessoas para a emigração”, disse, questionando se o sistema estará “adaptado” ao próprio país.

Será que “serve para resolver problemas de outros e não os nossos problemas”, referiu, assumindo ser uma provocação, para suscitar “uma reflexão” que deve ser feita “numa perspetiva de 50, 25 anos”.

Deve haver um sistema que prepara para inovação e que inclua uma componente ética, disse.

Além da educação, há outros pilares da sociedade que o Estado não pode abandonar, apontou, recordando as tarefas que teve nas mãos quando se tornou primeiro-ministro, há 50 anos.

O Estado “deve continuar social, enquanto houver pobreza. Enquanto houver gente com muita dificuldade, cabe ao Estado resolver ou participar na solução”, encarregue das áreas da educação, saúde, transportes” entre outras tarefas de base.

Ao mesmo tempo, Pedro Pires considerou igualmente importante para os próximos 50 anos um discurso político honesto, como forma eficaz de esvaziar extremismos, tal como diz ter acontecido há meio século.

A 07 de julho de 1975, dois dias depois da independência, Pedro Pires teve de apresentar “uma política de austeridade (…), fomos diretos à questão, sem esconder as dificuldades e o esforço que era necessário”.

“Mas, juntos vamos resolver isso”, foi o chamamento, que diz ter resultado.

“Hoje dizem que estamos no tempo dos partidos populistas. Estamos no tempo da demagogia e da manipulação”, apontou, ao recordar que aquele apelo “motivador” foi a maneira “de encarar e resolver as grandes questões”.

No plano externo, “Cabo Verde e países pequenos precisam do multilateralismo e das Nações Unidas”, referiu, acrescentando que “devem ser feitas as reformas necessárias” à organização, sem desistir dela.

Ou seja, “não devemos fazer a coisa infantil de deitar fora a criança com a água do banho”. 

“Sem multilateraismo, vamos cair em dependências enormes, sobretudo quando temos medo ou não temos experiência”, referiu.

As reformas na ONU devem refletir a nova distribuição de poderes global — diferente da que prevalece, datada de 1945, de uma era colonial.

“Precisamos de um consenso, entre os mais poderosos, pelo menos. Nós devemos empurrar e estimular o consenso” para as reformas das Nações Unidas, afirmou. 

“É o futuro da humanidade que está em causa”, apontou.

Segundo Pedro Pires, Cabo Verde já mostrou como a posição estratégica do arquipélago no Atlântico pode ajudar a fazer pontes, “um país útil” para “construir a paz”.

O antigo chefe de Estado interveio no âmbito do XII Diálogo Estratégico, organizado pelo Instituto Pedro Pires para a Liderança (IPP), que o próprio lançou em 2013 para formar jovens líderes com “mentalidade crítica” e “visão estratégica”.

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