Internacional

Polémica e polarização no discurso marcam fortemente o governo de Milei

“A ascensão da extrema-direita radical tornou-se um fenómeno que está a impactar vários países. A Presidência de Milei [eleito em 2023] é vista como parte desta tendência global de líderes de direita, populistas e ‘outsiders'”, afirmou a docente Carla Yumatle, professora visitante num programa do Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

 

Segundo Carla Yumatle, Milei demonstrou sinais semelhantes aos de outros governos de extrema-direita, nomeadamente o desrespeito pelos valores democráticos, violência no discurso, propensão para a polarização extrema, desconsideração ao ‘establishment’ político, alianças com atores religiosos, ataques persistentes aos meios de comunicação de massa e a qualquer forma de crítica vinda da sociedade civil, desprezo por qualquer forma de pensamento progressista, reivindicação da masculinidade e abuso de notícias falsas.

“Milei propõe também um projeto político que supostamente implica uma reformulação do ‘establishment’ político, juntamente com os pilares da sociedade civil que canalizaram esta forma de política democrática. Tudo em nome da liberdade individual”, sublinhou a professora.

Segundo Carla Yumatle, o projeto de Milei centra-se mais na desregulamentação da economia, na eliminação da inflação e na redução do défice orçamental. Embora a estrutura institucional existente e os atores políticos estabelecidos tenham-se revelado demasiado fracos e desacreditados para apresentar uma alternativa ao atual Governo, as forças sociais e políticas têm funcionado como barreiras à ambição do Executivo de concentrar o poder.

“Os discursos que o Presidente argentino tem proferido em fóruns internacionais revelam o efeito de confronto que as suas palavras procuram produzir. Ao mesmo tempo, os frequentes elogios que recebe de grupos aliados refletem a rede de lideranças e ideologias com as quais se alinha. Os seus modos de apresentação — em particular o seu discurso — chamam a atenção e conduziram a um perfil internacional surpreendente”, declarou a escritora Andrea Giunta, que é historiadora da arte e professora na Universidade de Buenos Aires.

Para Andrea Giunta, a maneira de Milei apresentar-se “por si só, constitui uma inscrição polémica de poder. É, por si só, uma forma de poder”.

“Posso apenas dizer que Javier Milei está a romper relações com muitos países com a sua política de anarquismo libertário. Está a gerar um novo círculo de relações em torno de [Presidente norte-americano] Donald Trump, Elon Musk e dos apoiantes da extrema-direita radical no mundo”, avaliou o jornalista e educador especializado em investigação e cultura digital Tomás Pérez Vizzón, fundador do Podcast Anfibia, sobre tecnologia.

A instituição privada dedicada à defesa dos direito humanos Open Society Foundations, fundada por George Soros, anunciou em julho que quatro argentinos haviam recebido uma bolsa Open Society Fellowship no valor de 120.000 dólares (cerca de 105 mil euros), entre os quais estão Andrea Giunta, Carla Yumatle e Tomás Pérez Vizzón.

Os investigadores argentinos fazem parte de um grupo de 31 intelectuais e académicos do sul global que vão atuar como Open Society Fellows em 2025-26.

A Open Society Foundations irá apoiar com estas bolsas 31 pensadores em sete cidades, nomeadamente Beirute, Buenos Aires, Colombo, Dar es Salaam, Jacarta, Lagos e Taipé.

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