Alagoas

Presidente da COP30 descarta ‘plano B’ para cúpula e diz que Brasil busca garantir presença de todos os países

O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, afirmou nesta sexta-feira (1º) que o Brasil está atuando para garantir que todos os países, até os países mais pobres, consigam participar da conferência do clima da ONU, marcada para novembro em Belém.

Segundo ele, o governo descarta qualquer plano B e mantém a capital paraense como sede do evento, mesmo após relatos de pressão internacional e pedidos de transferência por causa dos altos preços de hospedagem.

“Mais de dois terços dos países da ONU são consideravelmente mais pobres que o Brasil”, disse Corrêa do Lago. “Eles esperam vir para um país em desenvolvimento e encontrar uma maneira de poder estar presentes com os preços que podem pagar.”

A declaração foi feita durante uma conversa virtual com jornalistas, organizada para marcar os 100 dias da COP – contagem que começa oficialmente neste sábado, 2 de agosto.

“O encontro de chefes de Estado vai ser em Belém. E não há nenhum plano B”, disse Corrêa do Lago.

 

No encontro, o embaixador reconheceu que a crise de hospedagem gerou reações fortes por parte de delegações dos chamados países de menor desenvolvimento relativo (LDCs), pequenas ilhas e do grupo africano.

“Esses países se manifestaram de maneira muito clara na reunião. Disseram que, com a diária de 143 dólares que recebem, precisam de quartos entre 50 e 70 dólares para poder participar”, explicou. “Se você olhar hoje os preços em Belém, há centenas de quartos nessa faixa. Mas nas datas da COP, os valores disparam.”

Corrêa do Lago disse ainda que três grupos regionais chegaram a solicitar a mudança do local da conferência.

“Isso está sendo atribuído a mim, mas estou apenas relatando o que os países comentaram. Não é a minha opinião, não é a opinião da Ana [Toni, CEO da COP30], nem de ninguém do governo.”

 

Ele reforçou que o problema não está na capacidade de hospedagem da cidade, mas nos valores cobrados, inclusive por imóveis em plataformas de aluguel por temporada.

“Os hotéis estão botando preços tão altos que se tornaram referência. Esses valores estão sendo transferidos para os preços dos apartamentos também”, afirmou. “A questão não é a quantidade de hospedagem, é o preço nitidamente acima do que esses países podem pagar.”

 

Participação de países pobres

 

O governo também estuda, junto à ONU, ampliar os subsídios às delegações mais pobres. Mas, segundo a Casa Civil, há limites legais: a legislação brasileira não permite impor tabelamento de preços a hotéis nem a plataformas como Airbnb e Booking.

Em nota, a Secretaria Extraordinária da COP30 informou que 2.500 quartos com tarifas fixas entre US$ 100 e US$ 600 já estão disponíveis. Para os 73 países menos desenvolvidos, foram reservados 15 quartos por delegação com valores mais baixos, entre US$ 100 e US$ 200.

A COP 30 será a primeira conferência climática da ONU na Amazônia e deve reunir chefes de Estado, ministros, diplomatas e milhares de integrantes da sociedade civil de mais de 190 países.

Preocupação da Onu

 

Desde o início desse ano, preocupações com a logística atrapalharam os preparativos para a COP30. Países em desenvolvimento e países ricos alertaram que não podem arcar com os preços de hospedagem em Belém, que dispararam devido à escassez de quartos.

Em uma reunião de emergência do “COP bureau” do órgão climático da ONU na terça-feira, o Brasil concordou em abordar as preocupações dos países sobre acomodações e apresentar um relatório em 11 de agosto, disse Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, que convocou a reunião.

“Recebemos a garantia de que revisitaremos isso no dia 11 para ter certeza se a acomodação será adequada para todos os delegados”, disse Muyungi à Reuters após a reunião.

 

Ele disse que os países africanos queriam evitar reduzir sua participação por causa do custo.

“Não estamos prontos para reduzir os números. O Brasil tem muitas opções em termos de ter uma COP melhor, uma boa COP. Por isso, estamos pressionando para que o Brasil forneça respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, disse Muyungi.

Outro diplomata confirmou que a reclamações sobre os preços vieram tanto de países pobres quanto ricos.

Um relatório com os temas previstos para a reunião de terça-feira, acessado pela Reuters, confirmou que o encontro foi convocado para abordar “preparativos operacionais e logísticos para a Conferência sobre Mudanças Climáticas em Belém” e as preocupações do Grupo Africano de Negociadores sobre o assunto.

O Itamaraty não respondeu à reportagem. Autoridades brasileiras que organizam a cúpula têm garantido repetidamente que os países mais pobres terão acesso a acomodações que possam pagar.

Hotéis de navio e cruzeiro

 

O Brasil está correndo para expandir os 18 mil leitos de hotel normalmente disponíveis em Belém, uma cidade costeira de 1,3 milhão de habitantes, para receber as cerca de 45 mil pessoas previstas para participar da COP30.

O governo anunciou este mês que garantiu dois navios de cruzeiro para fornecer 6 mil camas extras para os delegados. Também abriu reservas para países em desenvolvimento para acomodações mais acessíveis, com diárias de até US$ 220.

Leia também