O governo federal anunciará nesta segunda-feira (30), com cobertura ao vivo pelo Canal Rural, a partir das 11 horas, o novo Plano Safra 2025/2026, com expectativa de um volume recorde destinado ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O anúncio ocorre em um cenário desafiador: juros altos, inflação persistente nos insumos agrícolas e limitação orçamentária. A promessa é de mais crédito, mas a realidade no campo exige uma análise mais profunda: será que o valor por hectare acompanhará o aumento nos custos de produção?
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O Plano Safra 2024/25 disponibilizou R$ 76 bilhões para o Pronaf — um valor considerado histórico. Desses, R$ 60,2 bilhões foram efetivamente utilizados até maio de 2025. As taxas de juros variam entre 0,5 % e 6 % ao ano, com condições mais vantajosas para linhas de agroecologia, alimentos básicos e microcrédito.
A política pública foi elogiada pelo volume, mas criticada pelos custos indiretos: estudo da CNA revelou que, na prática, o custo real pode chegar a 18,6 % ao ano, somando taxas bancárias, seguros obrigatórios e despesas operacionais.
O que esperar do Pronaf 2025/2026
- O governo promete superar os R$ 76 bilhões anteriores, mantendo o foco em produtores familiares, agroecologia e segurança alimentar. Destaques já antecipados:
- Instituição do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara);
- Manutenção de taxas baixas (2 % a 3 %) para alimentos da cesta básica e agricultura orgânica;
- Maior integração com programas de compras públicas e assistência técnica via entidades como o Sebrae e a Emater.
Entretanto, o desafio é compatibilizar esses avanços com um cenário econômico adverso: a taxa Selic está em 15 % ao ano, exigindo maior subvenção orçamentária para manter o juro equalizado. Isso pressiona o Tesouro Nacional, que já trabalha sob forte restrição fiscal.
Apesar do valor total elevado, o que realmente importa para o produtor é quanto recurso está disponível por hectare cultivado — e aqui está o alerta:
O custo médio por hectare aumentou consideravelmente em função da alta dos fertilizantes, defensivos e combustíveis.
Se o crédito disponível não for reajustado proporcionalmente, o produtor terá que complementar com capital próprio ou reduzir área/tecnificação.
Isso vale tanto para o Pronaf Custeio quanto para linhas de investimento, como o Pronaf Mais Alimentos.
Em outras palavras: mais dinheiro no total não significa maior cobertura individual. Um orçamento inflado pode mascarar uma realidade em que o crédito não cobre os custos reais da produção.
As taxas anunciadas pelo governo (entre 0,5 % e 6 %) são apenas a ponta do iceberg. O produtor familiar, principalmente o mais desassistido, lida com:
- Taxas bancárias ocultas;
- Exigência de garantias e seguros caros;
- Burocracia que atrasa o acesso ao recurso.
Esse “custo efetivo”, muitas vezes ignorado nos anúncios oficiais, pode tornar o crédito inviável — ou empurrar o produtor para o endividamento.
Conclusão: o produtor pode receber mais, mas colher menos
O Plano Safra Pronaf 2025/2026 virá com uma roupagem otimista: mais recursos, novos programas, foco na sustentabilidade. No entanto, o produtor precisa estar atento ao que realmente entra na sua conta e ao que ele consegue produzir com esse dinheiro.
A inflação dos custos por hectare, combinada com a complexidade bancária e o juro real embutido, pode gerar uma situação paradoxal: crédito mais volumoso, mas menos eficaz.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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