Numa conferência de imprensa em Doha, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mayed al-Ansari, afirmou que, até agora, não foram informados de prazos específicos, mas que as autoridades israelitas estão a analisar a resposta do Hamas.
Al-Ansari indicou também que a proposta em cima da mesa é quase idêntica a uma anterior apresentada pelo enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, e aceite por Israel.
O porta-voz informou ainda que o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Mohamed bin Abdulrahman al-Thani, está em contacto com a parte norte-americana.
“É o melhor que pode ser oferecido neste momento e a melhor opção possível para pôr fim ao derramamento de sangue do povo palestiniano perante a escalada [da ofensiva] israelita”, declarou, acrescentando que se as partes não conseguirem chegar a um acordo, poderá haver “uma catástrofe humanitária ainda mais grave” no enclave palestiniano.
A proposta dos mediadores — Qatar, Egito e Estados Unidos – prevê um cessar-fogo de 60 dias, um aumento do afluxo de ajuda humanitária, bem como a libertação dos reféns israelitas em duas fases, na primeira das quais, dez reféns vivos em troca de 150 prisioneiros palestinianos. O acordo inclui também a entrega pelo Hamas dos restos mortais dos reféns que morreram em cativeiro.
Segundo fontes próximas do processo negocial, após 22 meses de guerra israelita em Gaza, o Hamas cedeu em dois pontos que tinham feito descarrilar as conversações no mês passado, em Doha: a libertação de prisioneiros condenados a prisão perpétua e a dimensão da zona tampão ao longo da fronteira.
Israel insistiu hoje que “não alterou” a sua política e continua a “exigir a libertação” imediata de todos os reféns, vivos ou mortos, mantidos em cativeiro pelas milícias palestinianas, “de acordo com os princípios estabelecidos pelo Governo [do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu] para pôr fim à guerra”.
Exige também o desarmamento imediato do Hamas, além da desmilitarização da Faixa de Gaza, do controlo israelita do perímetro do enclave e da criação de um Governo que não seja do Hamas ou da Autoridade Palestiniana e que “coexista em paz com Israel”.
“Estamos na última fase decisiva contra o Hamas e não deixaremos nenhum refém para trás”, referiu uma fonte governamental israelita à agência francesa AFP, enquanto se aguarda uma resposta formal de Israel aos mediadores.
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.
A guerra fez, até agora, 62.064 mortos, na maioria civis, e 156.573 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas pelo bloqueio de ajuda humanitária durante mais de dois meses, seguido da proibição israelita de entrada no território de agências humanitárias da ONU e organizações não-governamentais (ONG).
Alguns mantimentos estão desde então a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados “seguros” pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis palestinianos famintos, tendo até agora matado pelo menos 1.908 e ferido 13.863.
Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” e “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU tinha acusado Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) – uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais e israelitas de defesa dos direitos humanos.
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