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Há algo de profundamente simbólico no fato de Salvador, após treze anos de carlismo, ostentar o pior índice de alfabetização infantil entre todas as capitais do Brasil. Não é apenas um dado técnico: é o retrato de uma cidade que, enquanto se pinta de modernidade em outdoors, abandona o essencial — ensinar suas crianças a ler.
Em 2024, pouco mais de um terço das crianças da rede pública conseguiram ser alfabetizadas. Enquanto isso, o prefeito Bruno Reis coleciona greves (são 70 dias de paralisação), enfrenta professores desmotivados e prefere dar entrevistas do que dar respostas. Educação não é pauta de discurso, é prática — e Salvador, infelizmente, virou exemplo do que não fazer.
O contraste com o Governo do Estado da Bahia é inevitável. Jerônimo Rodrigues tem investido pesado em políticas públicas estruturantes: programas de alfabetização em toda a rede estadual, valorização do EJA, capacitação de professores e diálogo com comunidades. É o Estado que tem se colocado no front da educação, enquanto a prefeitura parece acreditar que marketing de gestão substitui quadro negro e caderno.
A verdade é que a capital baiana, hoje, vive um retrocesso silencioso. Não há cidade inteligente quando a criança não sabe ler. Não há futuro sem alfabetização. O Estado compreendeu isso; a prefeitura, não.
O carlismo gosta de slogan e palco, mas fracassou no dever mais básico: formar leitores. Enquanto Salvador tropeça nas próprias promessas, o governo estadual avança, mostrando que política pública não se faz com holofotes, mas com compromisso diário.
E no final, é sempre a mesma pergunta: de que adianta a cidade que cresce em viadutos, mas encolhe em conhecimento?
Marília Zotareli é médica pediatra, especialista em saúde pública e mãe neurodivergente. Com experiência na gestão hospitalar e na formulação de políticas de cuidado, esta coluna trará reflexões sobre desafios e soluções para um sistema de gestão pública mais acessível e eficiente.
