Sánchez, líder do Governo e do PSOE, foi hoje pela primeira vez ao parlamento após ter admitido, na semana passada, que há “indícios muito graves” de corrupção por parte de ex-dirigentes do partido, na sequência da divulgação de um relatório de investigação policial e gravações de conversas telefónicas entre figuras da cúpula socialista próximas do primeiro-ministro.
O parlamento espanhol tem às quartas-feiras de manhã uma “sessão de controlo ao Governo”, em que os membros do executivo respondem a perguntas dos deputados, tendo Sánchez sido hoje questionado sobre a corrupção no PSOE pelo Partido Popular (PP, direita e maior força da oposição), Vox (extrema-direita) e Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, independentistas catalães, que viabilizaram os últimos governos espanhóis liderados pelos socialistas).
O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, acusou o primeiro-ministro de ser “o lobo que liderou uma manada corrupta”, enquanto o deputado da ERC Gabriel Rufián pediu a Sánchez mais garantias e medidas em relação às suspeitas de corrupção.
Nas respostas, e em meio de um coro de gritos de “demissão” oriundo da bancada do PP, Sánchez garantiu de novo que o PSOE “é uma organização limpa” e sublinhou que a investigação policial da semana passada não assinala suspeitas de financiamento ilegal do partido, estando em causa atuações pessoais.
“Não vou aceitar que se transforme um episódio numa categoria porque a esquerda não é corrupta, a esquerda não rouba e a minha organização é limpa”, afirmou.
Sánchez reconheceu que o PSOE e ele próprio estão a lidar há uma semana com um “golpe doloroso”, mas afirmou que atuou “com contundência” perante as suspeitas, exigindo a demissão imediata de todos os cargos aos envolvidos.
O primeiro-ministro voltou também a recusar a possibilidade de se demitir ou adiantar eleições – previstas para 2027 – e reiterou o desafio à oposição de direita para apresentar uma moção de censura.
Ainda dirigindo-se à oposição de direita, Sánchez realçou que não há sentenças que condenem o PSOE ou dirigentes socialistas por corrupção desde que está à frente do partido, ao contrário do que aconteceu na última década com o PP, que acusou de ser “uma enciclopédia de corrupção”.
O líder do PP, por seu turno, voltou a admitir avançar com uma moção de censura, se conseguir os apoios suficientes no parlamento que garantam a sua aprovação. Até agora, Feijóo tem dito que não avança com a moção porque o mais provável é ser rejeitada, o que acabaria por se transformar num reforço da legitimação de Sánchez como primeiro-ministro e num “balão de oxigénio” ao líder do Governo.
A suspeita de corrupção na cúpula do PSOE abriu uma crise em Espanha que analistas, dirigentes partidários e imprensa consideram quase unanimemente colocar em risco a sobrevivência política do primeiro-ministro, Pedro Sánchez.
A justiça espanhola anunciou na quinta-feira passada haver “indícios consistentes” de corrupção contra o então “número três” do PSOE e deputado Santos Cerdán.
O Tribunal Supremo de Espanha disse, em comunicado, que na sequência de um relatório de uma investigação policial a um antigo ministro dos Transportes de Sánchez (José Luis Ábalos), a justiça concluiu haver também “indícios consistentes” contra Santos Cerdán, por suspeita de negociação de comissões de pelo menos 620 mil euros na adjudicação de obras públicas.
Ábalos foi ministro entre 2018 e 2021. Santos Cerdán era o “número três” do PSOE desde 2017, quando sucedeu no cargo a Ábalos. Os dois foram os maiores e mais reconhecidos apoiantes de Sánchez nas primárias do PSOE de 2014 e no caminho que depois o levou a liderar o Governo pela primeira vez, em 2018.
Cerdán foi também o homem que negociou com os independentistas catalães a amnistia que assegurou a reeleição de Sánchez como primeiro-ministro em 2023.
Primeiro-ministro desde 2018, Sánchez voltou a ser eleito para o cargo pelo parlamento espanhol em novembro de 2023, por uma geringonça composta por oito partidos.
Para já, a geringonça que o reelegeu limitou-se a pedir-lhe mais explicações e medidas “contundentes” contra a corrupção no PSOE, mas não lhe retirou o apoio e os partidos têm dito que não vão contribuir para a eleição de um Governo de direita e de extrema-direita em Espanha.
Leia Também: Draghi vence Prémio Princesa das Astúrias da Cooperação Internacional