No rescaldo do anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deu conta da imposição de tarifas de 30% sobre todos os produtos da União Europeia (UE) e do México, a partir de 1 de agosto, os líderes europeus apelaram a um acordo, ao mesmo tempo que se posicionaram ao lado da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que não descartou “contramedidas proporcionais”. Eis as reações.
“A partir de 1 de agosto de 2025, cobraremos da UE uma tarifa de apenas 30% sobre os produtos da UE enviados aos Estados Unidos, independentemente de todas as tarifas setoriais”, lê-se na carta endereçada a von der Leyen e divulgada na Truth Social pelo chefe de Estado norte-americano, este sábado.
Assim como fez com outros países, Trump disse que reverterá a sua decisão “se a União Europeia ou as suas empresas decidirem fabricar produtos nos Estados Unidos”. O responsável alertou, contudo, que se a UE decidir aumentar as tarifas e retaliar, “o valor que decidir aumentá-las será adicionado aos 30%” já anunciados.
A presidente da Comissão Europeia reiterou, em comunicado, que Bruxelas continua disposta a “trabalhar para chegar a um acordo até 1 de agosto”, mas vincou que também “tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar” os seus interesses, “incluindo a adoção de contramedidas proporcionais, se necessário”.
“Enquanto isso, continuamos a aprofundar as nossas alianças globais, firmemente enraizadas nos princípios do comércio internacional baseado em regras”, sinalizou.
Já o presidente do Conselho Europeu, António Costa, defendeu que a UE deve permanecer “firme, unida e pronta” para proteger seus interesses, ao mesmo tempo em que “constrói parcerias comerciais sólidas em todo o mundo”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, salientou que “esta história não terminou” e elogiou a reação “de serenidade” da União Europeia (UE) e do Governo, ainda que tenha apontado que o anúncio feito por Donald Trump constitui “um desvio apreciável” em termos de valores em relação ao que “estava em cima da mesa”.
“A posição de Portugal é exatamente a posição da Comissão Europeia. Não esconde que não é bom para o comércio internacional e para a economia internacional haver este tipo de anúncios nas condições em que foi feito”, disse.
Por seu turno, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, reforçou que Portugal aguardará pelo desfecho das negociações, na expectativa de um acordo, mas sem excluir nenhuma opção, em conjugação com a UE.
“Como diz a presidente da Comissão Europeia, vamos continuar as negociações, e nenhuma opção está excluída. Isto é, não está excluído que, se estivermos perante uma situação de escalada como esta por exemplo está anunciada, tenha de haver uma reação, digamos, também ela no sentido de reforçar os direitos aduaneiros recíprocos, portanto, uma reação de reciprocidade“, disse.
O governo italiano também já reagiu, tendo apontado em comunicado que “acompanha de perto as negociações em curso entre a UE e os Estados Unidos, apoiando integralmente os esforços da Comissão Europeia, que serão intensificados nos próximos dias“.
O executivo liderado por Giorgia Meloni expressou “confiança na boa vontade de todas as partes para chegar a um acordo justo que fortaleça o Ocidente como um todo”.
“Agora é fundamental manter o foco nas negociações, evitando polarizações que complicariam a obtenção de um acordo”, concluiu.
Já o primeiro-ministro dos Países Baixos, Dick Schoof, ofereceu o apoio “total” do governo à Comissão Europeia para procurar um acordo “mutuamente benéfico”.
“A Comissão Europeia pode contar com nosso total apoio”, afirmou Schoof numa mensagem nas redes sociais, sublinhando que “o anúncio dos EUA de impor tarifas de 30% sobre produtos importados da União Europeia é preocupante e não o caminho a seguir”.
O responsável também pediu unidade dentro da UE nesta fase das negociações com Washington, salientando que devem “permanecer unidos e determinados a conseguir um acordo mutuamente benéfico com os Estados Unidos”.
Por sua vez, o presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu apoiar “plenamente” a Comissão Europeia na “intensificação” das negociações com os Estados Unidos, embora tenha alertado que aquele organismo tem preparar “respostas confiáveis” às tarifas de 30% impostas por Washington sobre produtos europeus.
Ainda assim, disse acreditar que Bruxelas “afirmará a determinação da União (Europeia) em defender os interesses europeus”.
Já a ministra da Economia alemã, Katherina Reiche, pediu que a UE negocie “pragmaticamente” com os EUA.
“Cabe agora à UE, no tempo restante, negociar pragmaticamente uma solução com os Estados Unidos que se concentre nos principais pontos de conflito”, disse, em comunicado, acrescentando que a Comissão Europeia tem o seu “apoio nesta abordagem”.
Nessa linha, a Federação Alemã da Indústria (BDI, na sigla em alemão) apelou hoje à UE e aos EUA para encontrarem uma solução rápida, tendo considerado que “o anúncio do presidente Trump é um sinal de alarme para a indústria dos dois lados do Atlântico”.
“Um conflito comercial entre dois espaços económicos tão intimamente ligados como a UE e os Estados Unidos da América prejudica a recuperação económica, a força da inovação e, em última análise, a confiança na cooperação internacional“, referiu Wolfgang Niedermark, membro da direção da BDI, citado pela agência France-Presse (AFP).
O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, também reagiu favoravelmente a um acordo com os Estados Unidos, por forma a acabar com “tarifas injustificadas”.
Numa mensagem publicada na rede social X, o primeiro-ministro escreveu que “a abertura económica e o comércio criam prosperidade, mas tarifas injustificadas destroem-na”.
“É por isso que apoiamos e continuaremos a apoiar a Comissão nas suas negociações para chegar a um acordo com os EUA antes de 1 de agosto. Unidos, nós, europeus, constituímos o maior bloco comercial do mundo. Usemos essa força para chegar a um acordo justo“, acrescentou.
Leia Também: Tarifas? Marcelo afirma que “história não terminou” (e elogia as reações)