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Tecnologia disponível, mas pouco adotada: como a pecuária de cria no Acre pode evoluir?

Foto: Carlos Maurício Andrade

Diagnóstico realizado pela Embrapa em fazendas de cria do Acre revelou que 82% dos produtores são de base familiar e 71% praticam a criação de bezerros com baixa adoção de tecnologias. A ausência de infraestrutura adequada nessas propriedades está entre os principais fatores que dificultam a modernização dos sistemas de produção.

Entre as potencialidades da atividade, o estudo revelou que 75,4% das propriedades apresentam pastagem com boa qualidade, resultado do investimento em reforma de pastagens com adoção de gramíneas adaptadas à região. O uso dessas tecnologias contribui para garantir pastagens produtivas e duradouras, reduzem custos com novas reformas e evitam a abertura de novas áreas.

A pecuária de corte responde por 60% do valor bruto da produção agropecuária do Acre e a criação de bezerros é a base para obtenção de animais com características desejáveis para a produção de carne de qualidade.

A atividade gera trabalho e renda para mais de 10 mil produtores rurais do estado, que fornecem bezerros desmamados para propriedades de recria e engorda do Acre e outras regiões do país.

Para conhecer as potencialidades e fragilidades dessa atividade, pesquisadores da Embrapa percorreram 246 fazendas de cria, em 12 municípios. Os resultados confirmam o potencial da criação de bezerros e revelam carências típicas da pequena produção.

Faltam informações sobre tecnologias disponíveis

O diagnóstico confirmou que a pecuária de cria é menos desenvolvida que os outros elos da cadeia pecuária. A carência tecnológica está relacionada principalmente ao tamanho da fazenda, que define o perfil econômico da propriedade, grau de escolaridade dos produtores e falta de informações para os criadores sobre as tecnologias já disponibilizadas.

Entre as tecnologias pouco difundidas está o consórcio de gramíneas com leguminosas. O amendoim forrageiro, principal leguminosa recomendada, lançado pela pesquisa há mais de duas décadas, está presente em apenas 6% das fazendas de cria.

O estudo também mostrou que os protocolos de controle das principais plantas daninhas das pastagens, recomendados pela pesquisa, não estão bem difundidos entre os produtores.

Outra tecnologia ainda pouco conhecida é o plantio direto de forrageiras a lanço, pensado principalmente para pequenos produtores, por possibilitar a reforma de pastagens sem uso de tratores e com menor impacto ambiental. A técnica já é utilizada por grandes e médios pecuaristas, mas é pouco adotada por pequenos produtores.

Internet está presente em 71% das fazendas

O estudo revelou que 71% dos produtores têm acesso à internet por meio de smartfones e resolvem boa parte de suas demandas sem precisar se deslocar até a cidade. Esse canal de comunicação pode dar suporte às ações para disseminação de informações sobre as tecnologias disponíveis para modernizar a atividade.

Para o professor da Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA), Vitor Macedo, como a internet é uma realidade inclusive entre pequenos produtores é importante estimular a criação de redes locais de troca de conhecimento. Segundo ele, isso facilitaria a interação entre produtores mais tecnificados, iniciantes e técnicos da extensão rural.

“Outro ponto crucial é focar no compartilhamento de “tecnologias de entrada”, que exigem baixo investimento e têm efeito direto na produtividade, como a organização de calendário reprodutivo para a estação de monta, técnicas de identificação e separação das categorias de rebanho, vermifugação estratégica e práticas de manejo de pastagem”, destaca.

Pastagens com baixa degradação

O Acre possui, atualmente, o menor índice de degradação de pastagens entre os estados da região Norte, além de contar com pastos bem diversificados.

De acordo com o estudo, apenas 24,6% das pastagens das fazendas de cria investigadas necessitam de renovação e em 73% dessas propriedades os produtores investem na diversificação de pastagens com plantio de pelo menos três tipos de gramíneas.

A pesquisa também revelou que a taxa de lotação média utilizada pelas fazendas de cria, de 2,49 cabeças por hectare, é 27,7% maior do que a média do estado. Isso indica que pelo menos um terço das fazendas apresentam excesso de gado, prática que ocasiona superpastejo e compromete o desempenho dos animais.

Andrade explica que o superpastejo é um dos principais fatores de degradação de pastagem no Brasil. O problema, recorrente em muitas fazendas de cria no Acre, em especial naquelas de pequeno porte.

*Sob supervisão de Luis Roberto Toledo

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