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Ursos polares no Ártico estão mais saudáveis do que o esperado

“Até agora, parecem estar bem. Há mudanças notáveis no seu comportamento, mas mantêm-se saudáveis e em boa condição física, estão a reproduzir-se e estão a sair-se melhor do que suponhamos. Mas há um limite e o futuro pode não ser tão promissor”, diz Jon Aars, responsável pelo programa de ursos polares do Instituto Norueguês de Investigação Polar (NPI na sigla em inglês), citado pela agência France-Presse.

 

As declarações do investigador têm por base o estudo, ao longo de duas décadas, de ursos polares, que o NPI observa há 40 anos. Dos perto de 300 destes mamíferos que, segundo o instituto, vivem em Svalbard, 50 a 70 são capturados anualmente para a recolha de dados.

Os ursos polares são afetados quer pelas substâncias químicas sintéticas perfluoroalquiladas (PFAS) – os designados “poluentes eternos” porque são compostos persistentes, que não se degradam com facilidade — quer pelo aquecimento global, cuja taxa é três a quatro vezes superior à média no Ártico.

Segundo a AFP, em abril, numa expedição a bordo do quebra-gelo de investigação Kronprins Haakon, os especialistas recolheram pela primeira vez porções de tecido adiposo onde as PFAS se depositam para avaliar o seu impacto na saúde dos ursos.

Os cientistas reuniram também dados de sensores de ritmo cardíaco implantados em fêmeas no ano passado, que, juntamente com o GPS, fornecem informações sobre o seu gasto energético.

“Ao longo dos anos, recapturamos ursos várias vezes, por vezes seis ou oito vezes, e observámos uma diminuição dos níveis de poluentes em alguns deles. Isto reflete o sucesso das regulamentações nas últimas décadas”, observa a ecotoxicologista Heli Routti, que integra o programa há 15 anos.

A investigadora adianta que “a concentração de muitos poluentes sujeitos a regulamentação diminuiu nos últimos quarenta anos nas águas do Ártico. Mas a variedade de poluentes aumentou”.

Os especialistas do NPI contribuem para o Programa de Vigilância e Avaliação do Ártico (Amap), do Conselho do Ártico, cujas descobertas são utilizadas para adotar regulamentos contra vários tipos de poluentes.

A diminuição do gelo marinho causado pelo aquecimento global afeta as condições de caça dos ursos e os mamíferos “já não o conseguem utilizar como há 20 ou 30 anos”, assinala a especialista em ecologia espacial Marie-Anne Blanchet, citada pela AFP, referindo ainda que “as condições mudam significativamente de um ano para o outro, tornando o ambiente cada vez mais imprevisível”.

A vantagem dos ursos, acrescenta, é terem vidas longas, o que lhes permite acumular experiência e aprender.

“Isto confere-lhes um certo potencial adaptativo”, diz Marie-Anne Blanchet.

“Por exemplo, nos últimos anos, os ursos começaram a caçar mais renas em Svalbard (…) Será porque a população de renas está a aumentar? Ou porque já não conseguem capturar focas devido ao recuo do gelo? É difícil dizer. Mas esta diversificação da dieta pode ajudá-los a adaptar-se”.

Alerta, no entanto, que pode haver um ponto crítico, “além do qual os ursos já não consigam lidar com as mudanças”.

O Instituto Norueguês de Investigação Polar é uma organização pública responsável pela investigação científica e gestão das regiões polares.

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